Se a farinha é pouca, meu pirão primeiro...

 

Sinceramente, não sei como Deus ainda não desistiu de nós! Olhe que nem uma pandemia tem nos despertado para maior fraternidade e solidariedade. O “bicho tá pegando” e alguns ainda fazem “festas clandestinas” sem ligar para o risco iminente de um colapso no sistema único de saúde. Outros fazem jogo sujo para tomarem a vacina mesmo sem terem direito. E o outro? – O outro que se exploda! Entre nós, sobra competição e falta compaixão... Chega a ser escandalosa a indiferença de alguns para com outros. Muitos, que já não visitavam os pais, antes da pandemia, agora aproveitam a desculpa do “isolamento social” para esquecê-los de vez! Meu Deus, que mundo é esse?

O governo está comprando, aos poucos, os lotes de vacina contra o Covid-19. Então, foi preciso traçar prioridades para que os mais idosos e o pessoal da linha de frente na área da saúde pudesse ser vacinado primeiro. Alguns, entretanto, deram um jeito de burlar a norma e tomaram a vacina, mesmo sem terem o direito.  A total falta de escrúpulos permite que esses “fura-filas” postem suas fotos “sorri-dentes”, nas redes sociais, tomando a vacina. Isso acaba sendo um insulto, a tantos que ficaram de fora do processo mesmo tendo direito!

No Evangelho de São João existe uma passagem (Jo 5,1-16) que poderia ilustrar esse momento que estamos vivendo. Ela fala de um paralítico que esperava por uma cura milagrosa junto à piscina de Betesda. O nome “Betesda” quer dizer “Casa da Misericórdia”. Um nome inadequado tendo em vista que sob os seus pórticos centenas de doentes, idosos e paralíticos esperavam, milagrosamente, durante anos a fio, por uma cura que nunca acontecia! Ali também sobrava competição e faltava compaixão. Reclamando com Jesus um paralítico lhe dizia: Senhor já faz 38 anos que venho aqui. Mas, eu não tenho ninguém para me colocar na água quando ela começa a borbulhar. Outro entra primeiro. A piscina “milagrosa” pelo jeito só curava os mais espertos...

A queixa desse paralítico ainda pode ser ouvida em nossos dias, não mais nas piscinas mais nas filas de atendimento médico: - Senhor, eu não tenho ninguém! É lamentável perceber que estando no mesmo barco há uma competição desenfreada para ser curado em primeiro lugar! Falta compaixão. Compaixão que não faltou em Jesus diante daquele pobre paralítico. Quem ofereceu o milagre foi o próprio Cristo que não suportou ver tanto sofrimento naquele homem. Levanta-te, ele disse: Toma tua cama e anda! No mesmo instante aquele homem libertou-se de sua paralisia.

Milagres nós não podemos fazer. Mas, podemos ter mais compaixão para com o próximo. A misericórdia também pode curar não só quem precisa mais quem a emprega. Por causa de sua grande misericórdia Jesus curou aquele doente em dia de sábado. Isso fez com que ele fosse criticado pelos seus opositores. Mas, diante da lei do amor, todas as outras normativas deveriam cair por terra. O exemplo de Jesus deveria ser seguido por todos aqueles que se dizem cristãos. Ele não permaneceu indiferente diante do sofrimento daquele moço que buscava a cura no lugar errado. Curou-lhe ali mesmo, afinal Ele é Deus!

Imagem de Adriano Gadini por Pixabay