Paulo Apóstolo na Cidade de Icônio (At 14, 1-7)

 

Ao fazer o “relatório” sobre a primeira viagem de Paulo e Barnabé, Lucas foi bastante sintético  indo direto ao essencial sem perder tempo com firulas. O objetivo de Lucas não foi narrar, à maneira de um repórter, tudo o que aconteceu e todas as dificuldades enfrentadas por eles nessa viagem. Por isso, é bom recorrer a outras fontes para melhor entendimento do assunto. Alguns acontecimentos foram reincidentes em quase todos os lugares por onde eles passaram: Rejeição por parte dos judeus (At 14,1-5), acolhida por parte dos pagãos seguida de perseguições e fugas...

 Nesse pequeno texto vamos refletir um pouco sobre a “estadia” deles em Icônio. Icônio, a atual cidade de Konya, encontrava-se a cerca de 140 km de Antioquia da Pisídia, na direção leste-sudeste, no centro de uma importante encruzilhada por onde passava antigamente a via “sebaste” ou “augusta” (imperial), que alcançava o oriente através das portas da Cilícia. Icônio fazia parte da Frígia (região centro-oeste na antiga Ásia Menor) ainda que politicamente fizesse parte da província da Galácia (1). Para  se chegar até lá Paulo e Barnabé devem ter andado uns três ou quatro dias. Nessa época o Imperador Cláudio havia permitido que a cidade adotasse seu próprio nome. Então, durante algum tempo ela foi chamada de “Claudiconium”. (2).

Um fato curioso narrado em texto apócrifo do Séc II (Atos de Paulo e Tecla), narra o encontro do Apóstolo Paulo com Santa Tecla, na Cidade de Icônio onde ela havia nascido. Nesse texto há uma descrição curiosa sobre a aparência física do Apóstolo: “Finalmente viram um homem se aproximando, de pequena estatura, sobrancelhas unidas, calvo, pernas tortas, de compleição forte, olhos encovados e um nariz torto e grande. Era cheio de graça, porque às vezes parecia um homem e, outras vezes, parecia um anjo. E Paulo viu Onesíforo e ficou contente...”(3). Esse documento conta a história de Tecla, uma jovem de 18 anos, que ao tomar conhecimento dos ensinamentos de Paulo, deixou tudo para segui-lo.  Conta-se que ao ouvir São Paulo falar com Onesíforo, seu anfitrião, sobre o valor da castidade, ela resolveu desmarcar o seu casamento para seguir a vida religiosa. Isso lhe custou muitas perseguições e, finalmente a morte (4). Apesar de desanimadora, talvez, essa seja a única descrição física do Apóstolo Paulo já que nos textos canônicos nada encontramos sobre esse assunto. É possível que essa descrição do Séc. II, seja verdadeira, pois os ícones posteriores de Paulo aproximam-se bastante dessa descrição. Muito provavelmente Paulo era calvo e barbudo. Embora os estudos bíblicos aleguem que não dispomos de nenhuma informação real sobre a aparência de Paulo a Igreja Ortodoxa chega a uma conclusão diferente sobre o tema.

Kônya, atualmente, abriga dois milhões de habitantes, sendo a segunda cidade da Anatólia Central depois de Ankara. Com a expansão dos muçulmanos se transformou na capital do Sultanato Seljúcida de Rum, por volta de 1075. Em Kônya encontra-se o Museu (foto em destaque) de Mevlana (Jalāl ad-Dīn Mohammad Rūmī) ou simplesmente, Rumi, um grande místico do Islã (5).

Refletir sobre as viagens missionárias de São Paulo é reconhecer o grande esforço desse santo para tornar a mensagem cristã conhecida nas terras mais distantes. Graças ao seu esforço a Igreja cresceu, ainda que enfrentando muitas dificuldades conforme ele mesmo confessa:

Fui flagelado três vezes; uma vez fui apedrejado; três vezes naufraguei; passei um dia e uma noite em alto mar. Fiz muitas viagens. Sofri perigos nos rios, perigos por parte dos ladrões, perigos por parte dos meus irmãos de raça, perigos por parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos por parte dos falsos irmãos. Mais ainda: morto de cansaço, muitas noites sem dormir, fome e sede, muitos jejuns, com frio e sem agasalho. E isso para não contar o resto: a minha preocupação cotidiana, a atenção que tenho por todas as igrejas (2 Cor 11,25-28).

Grande parte das cidades visitadas por São Paulo localizavam-se,  na região da atual Turquia, que hoje é um país de maioria muçulmana. Essas regiões um tanto quanto desconhecidas por nós já fizeram centenas de santos como São Jorge, São Policarpo, São Basílio e outros... Isso indica como o seu trabalho produziu frutos. Melhor do que ninguém, São Paulo entendeu o que significa ser “Igreja em saída”. Será que hoje nós entendemos o valor e a necessidade de sermos missionários?

 

1-      Bíblia. N. T. Atos dos Apóstolos/trad: Rinaldo Fabris. São Paulo, Loyola, 1991. Nota de rodapé – PP 263

2-      Walker, Peter. Pelos caminhos do Apóstolo Paulo: guia ilustrado das viagens do Apóstolo Paulo /trad: Andréa Mariz. São Paulo: Edições Rosari, 2009 – PP 81.

3-      ------------ Idem. PP. 82.

4-      http://regiaoipiranga.com.br/liturgia/santo-do-dia/santa-tecla (Site da Arquidiocese de São Paulo – Consulta em 04/04/2021

5-      http://ggpadre.blogspot.com/2019/04/a-mistica-permeia-todas-as-religioes.html - Consulta em 04/04/2021

Imagem de eren eren por Pixabay 

No vídeo abaixo uma apresentação dos Derviches na Turquia: