Augusto Matraga: Um conto inesquecível

  Dentro de meu objetivo de ler “Corpo de Baile,” de Guimarães Rosa, uma obra clássica da literatura brasileira, concluí mais um passo, lend...

 


Dentro de meu objetivo de ler “Corpo de Baile,” de Guimarães Rosa, uma obra clássica da literatura brasileira, concluí mais um passo, lendo o conto/novela: “A hora e a vez de Augusto Matraga”.  De acordo com os especialistas este é um dos melhores contos do autor. Ele é o último conto de “Sagarana”, primeiro livro de Rosa, publicado em 1946. Sagarana, na verdade são uma coleção de nove contos, todos ambientados no sertão de Minas Gerais. Veja, abaixo, o elenco dessas histórias:

1-O Burrinho Pedrês – Conto de aventura cujo personagem em destaque é um burrinho “Sete-de-Ouros”. Mesmo com idade avançada o burrinho acaba levando a melhor ao atravessar uma enchente perigosa retornando de uma longa viagem são e salvo.

2-A Volta do Marido Pródigo – É um conto de humor que Narra a história de  Lalino, um  “bon vivant” que deixa a esposa e vive uma aventura no Rio de Janeiro. Quando retorna do Rio sua esposa já está nos braços de outro.

3-Sarapalha – Conto trágico que narra a história de dois primos Ribeiro e Argemiro que vivem num lugar atacado por maleita. Apaixonam-se pela mesma mulher e tem que arcar com as consequências disso.  

4-Duelo – Duelo fala de um triangulo amoroso que acaba com a morte dos dois combatentes. Não dá para ignorar a força do destino que conduz a trama dessa história.

5-Minha gente – O conto fala da esperteza feminina que parece conduzir toda a trama. Nesse conto existe grande referência ao jogo de xadrex.

6-São Marcos – Um conto que narra a descrença e falta de fé. Fala de alguém (José/Izé), que zomba da fé dos feiticeiros: Calango-Frito e João Mangolô. É repreendido por Aurísio Manquitola por zombar de coisa séria.

7-Corpo fechado – História que envolve amor e misticismo. Manuel Fulô é dono de uma mula cobiçada pelo feiticeiro Antonico das Pedras-Águas. Vendo-se ameaçado por Targino, um homem valente acaba perdendo a mula para o feiticeiro em troca de ter o corpo fechado por ele. O personagem Targino também aparece em outros contos.

8-Conversa de bois – O conto é uma fábula onde os animais conversam como os homens. Ele conta a viagem de um carro de bois que leva uma carga de rapadura e o corpo de um homem morto. Brilhante, um dos bois da história conta para o seu “colega do lado” que outro companheiro seu morreu porque aprendeu a pensar como os homens...

9-A hora e vez de Augusto Matraga – Augusto Estêves ou Nhô Augusto era um homem afortunado que acabou gastando toda sua riqueza numa vida de excessos e prazeres. Sua esposa, Dona Dionóra, não aguentando mais ser desprezada  saiu de casa junto com a filha e acabou juntando-se com outro coronel, Seu Ovídio Moura. Depois de abandonado pela esposa foi abandonado também por seus capangas que se juntaram ao Major Consilva. Sozinho e revoltado Nhô Augusto resolveu ir tirar satisfação com Major Consilva antes mesmo de vingar-se da esposa e de Ovídio Moura. Afinal Nhô Augusto era “couro ainda por curtir”.

Nhô Augusto apanhou tanto na casa do Major Consilva que quase perdeu a vida. Só não morreu porque foi encontrado por um casal de pretos que cuidaram dele como se fosse um filho. Durante bom tempo ele permaneceu oculto na casa dos pretos: Mãe Quitéria e Pai Serapião. Todos julgaram que ele estivesse morto. De longe ficou sabendo que sua filha tornara-se prostituta e que a mulher continuava “bem casada” com Seu Ovídio Moura. O casal de pretos despertou em Nhô Augusto o senso religioso. Com medo do inferno ele costumava afirmar: Eu vou para o céu nem que seja à porrete!

Certo dia passou pelo lugar de refúgio de Nhô Augusto e do casal de pretos  outro jagunço afamado, Joãozinho Bem-Bem. Sua turma foi acolhida na casa de Nhô Augusto e dali nasceu grande amizade entre Bem-Bem e ele. Joãozinho Bem-Bem, inclusive convidou-o à fazer parte de seu bando, no que Nhô Augusto recusou-se pelo medo do inferno. Mas, o tempo passou e Augusto resolveu partir dali no lombo de um burrinho. O burrinho era um animal meio sagrado por ter carregado o Menino Jesus. Nessa viagem Augusto e Joãozinho Bem-Bem encontraram-se de novo. Os dois envolveram-se numa grande briga, apesar de amigos. É que Joãzinho Bem-Bem queria matar um rapaz para vingar a morte de um dos seus homens. Augusto defendeu a vítima e, por isso, entrou em atrito com Bem-Bem. O resultado dessa briga foi a morte de ambos.

No duelo final entre dois homens bravo cai por terra qualquer mentalidade maniqueísta que separa o mau do bem. Augusto era um diabo que havia se transformado numa espécie de santo. Mas, na hora da briga endiabrou-se de novo. Joãozinho Bem-Bem, incorporou a maldade ao longo da vida, mas fez um bem ao final contribuindo para a redenção de Augusto. O mau e o bem estão juntos e misturados o tempo todo. Aquela briga seguida de morte foi a hora e a vez de Augusto Matraga.

Obs: Destaco alguns pensamentos do texto que me fizeram refletir:

Para quem não sai, em tempo, de cima da linha, até apito de trem é mau agouro...

Tristeza é aboio de chamar demônio...

Deus mede a espora pela rédea, e não tira o estribo do pé de arrependido nenhum...

Para o céu eu vou, nem que seja à porrete...

Fugia às léguas de viola e sanfona, , ou de qualquer outra qualidade de música que escuma tristezas no coração...

Debaixo de angu tem molho, e atrás de morro tem morro...

Sapo na seca coaxando, chuva beirando...

Boi andando no pasto pra lá e pra cá, capim que acabou ou está para acabar...

Cantoria de Igreja, dando em cabeça fraca, desgoverna qualquer valente...


Imagem de Dennis Larsen por Pixabay 


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