E Caçoaram dele

 

Quando medito a Palavra de Deus procuro ler o texto na integra. Mas, algum versículo me chama mais a atenção do que outros. É como se ele ficasse num cantinho as sala  implorando minha atenção. Fico com aquele versículo martelando em minha cabeça, às vezes, o dia inteiro. 

Hoje, por exemplo, chamou minha atenção a expressão: “e caçoaram dele...”  A passagem é de São Marcos(Mc 5,40).  Jairo, o chefe da sinagoga, estava desesperado. Sua filhinha de 12 anos estava à beira da morte. Por isso, ele se prostra diante de Jesus suplicando pela saúde da filha. É assim mesmo. Um pai, desesperado faz qualquer coisa para salvar o filho, você não acha?

Parece que o momento foi interrompido por outra senhora desconhecida que se aproximou por trás do mestre e lhe tocou a roupa na espera de outro milagre. Ela padecia de hemorragia e sofria há doze anos com a enfermidade. Além da enfermidade, certamente, era discriminada por causa da “lei da pureza” que existia naquele tempo. Ela perdia sangue frequentemente. Por essa razão, devia ser considerada impura. Talvez, por isso, não teve coragem de pedir o milagre publicamente. O evangelho mostra, entretanto, que ela tem muita fé. Tocar em Jesus não foi o motivo da cura pois isso muitos faziam. O que garantiu sua cura foi a confiança com que tocou no mestre. 

Voltando ao caso de Jairo, Jesus não lhe recusa o pedido e toma o caminho de sua casa para curar - lhe a filha. Enquanto estão a caminho, algum portador de notícia ruim, adianta-lhes que a menina já morreu. O pai, no entanto, permanece sereno diante da garantia dada por Jesus: “Não temas; crê somente”. Chegando à casa de Jairo, Jesus viu o maior alvoroço. Alguns choravam, outros se lamentavam outros se amontoavam por simples curiosidade. Jesus procurou acalmar a todos dizendo que a menina, simplesmente, dormia. Ao falar isso, muitos começaram a caçoar dele. Sem se dar contas estavam caçoando do próprio Deus! Mas, Jesus nem ligou para isso. Parece que Deus já andava acostumado com as caçoadas humanas. Fez o que devia ser feito: Reviveu a menina e a devolveu ao seu pai. 

Ao ler essa passagem fiquei com esse versículo na cabeça. Como pode, caçoaram dele?

Quem o homem pensa que é? Será que eu seria capaz de fazer isso? Será que Deus ainda é alvo de caçoadas e zombarias?  Pensando nisso, lembrei-me de outras passagens bíblicas onde também caçoaram de Deus. Na cruz, os soldados, sem o mínimo respeito pela sua dor, riam e zombavam dele. “Se és o Filho de Deus, o que você está fazendo aí pendurado nessa cruz, desça daí, então acreditaremos em vós...” Aí a coisa pirou muito. Como puderam caçoar de um agonizante?  Certamente, caçoaram e ainda caçoam de Deus em muitas situações. 

O que mais me espanta não é atitude dos homens. Mas, a atitude de Deus. Ele finge não escutar quando caçoamos dele. Nossas críticas não atingem sua autoestima. Talvez, Ele espere que a gente se dê conta do absurdo que fazemos e que entendamos que Ele é amor em estado puro, e que sem amor, não dá para entender sua maneira de agir. Nossas caçoadas não fazem com que Deus diminua seu amor por nós. No caso da filha de Jairo ele não ouviu as caçoadas de quem não estava sofrendo. Ele preferiu ouvir o grito de desespero de um pai que acabava de perder a filha. Deus é assim. Fica surdo às nossas caçoadas quando quer socorrer um filho que sofre. Quem sabe o próximo que iria implorar pelo socorro divino não estaria naquele instante na galera do riso...

Imagem de Amber Avalona por Pixabay