As duas dimensões da fé

  Sem Deus não dá para ser feliz. Afirmar isso, sem explicar não adianta muito. Então, vamos tentar explanar (tornar plana) essa afirmação. ...

 


Sem Deus não dá para ser feliz. Afirmar isso, sem explicar não adianta muito. Então, vamos tentar explanar (tornar plana) essa afirmação. Todos nós buscamos uma realização na vida. Alguns depositam no dinheiro ou no sucesso a esperança dessa realização e, no entanto, ficam ricos e famosos mas a realização não chega... Não podemos negar que o dinheiro nos proporciona alguma forma de realização mas só ele não basta. Caso bastasse, todos os ricos seriam felizes e isso não é verdade. Por onde passa, então, a nossa realização enquanto ser humano?  A Palavra de Deus nos orienta dois posicionamentos em forma de cruz: um vertical e outro horizontal. É preciso viver a vida em obediência a Deus. Esse é o plano vertical. Mas, é preciso fazer da vida um dom aos irmãos. Esse é o posicionamento horizontal. Em outras palavras, devemos viver como Cristo viveu, em profunda obediência ao Pai e em plena doação aos irmãos.

Você, certamente, já ouviu dizer que “a fé sem obras é morta”. É nesse sentido que caminha agora a minha reflexão. As obras são o lado visível de nossa fé. Mas, a gente não deve fazer obras para aparecer como se quisesse mostrar para os outros, que somos tementes a Deus. Quem precisa ver o que fazemos é Deus e mais ninguém. Caso contrário, estaríamos agindo como os fariseus que gostavam de chamar a atenção sobre si mesmos. “As obras” é uma expressão genérica demais! Então, vamos simplificar. Jesus disse que bastaria um copo d’àgua, dado com amor, para sermos recompensados por Deus. Isso mesmo! Ninguém precisa matar um leão para que Deus fique satisfeito com ele. Aliás, se Ele exigisse isso de nós, estaríamos perdidos! A gente, quando muito, mata pernilongos. Aliás, estamos no tempo deles. Outros dias, ao cair da tarde, notei pela minha janela que entrava voando uma família inteira de pernilongos: Avós, pais, mães e filhos. Três gerações querendo chupar o meu sangue que nem deve ser grande coisa. Pelo menos se eu tivesse o sangue azul... Mas voltemos à nossa reflexão.

Certa ocasião, Jesus perguntou aos discípulos sobre o que o povo pensava a respeito dele. Aí apareceu de tudo! Os discípulos relataram-lhe, as mais variadas opiniões do povo a seu respeito. Uns diziam que ele era João Batista, Elias ou algum dos antigos profetas ressuscitados. Nem sempre, a “voz do povo é a voz de Deus”. O povo também pode ser manipulado e, simplesmente, repetir discursos decorados e frases feitas veiculadas nos meios de comunicação. Mas, ao que parece, Jesus queria mesmo saber era a opinião dos discípulos. Representando o grupo, Pedro afirmou solenemente: Tu és o Cristo, o Filho de Deus! Até aí tudo bem. Jesus deu-lhe os parabéns pela resposta. Mas, o que veio a seguir não pareceu legal a São Pedro. Jesus falou que seria perseguido e morto pelos seus adversários. Pedro então, chamou-o, à parte e disse: Sai fora, Senhor, isso não é justo! Como o Senhor, ocupando uma posição tão importante, poderia se sujeitar a tal situação? Ouvindo isso Jesus o chamou do lado e puxou-lhe a orelha. Ao que parece, Pedro só queria facilidade mas, o caminho para Deus também envolve sacrifícios e renúncias. Por isso, Jesus disse que aqueles pensamentos não vinham de Deus. O diabo é que gosta de tirar proveito da posição. Os seus seguidores também... Ainda hoje, alguns só pensam em si mesmos quando ocupam uma função pública sendo que, em função disso, deveriam pensar no coletivo.

Assim como o “Servo sofredor” mencionado ao final do Livro do Profeta Isaías, Jesus fez de sua vida um dom ao outro. Ele soube conciliar a fé e as obras. Por estar focado em seu objetivo ignorou os ultrajes e cusparadas. Seu interesse era apenas obedecer aos planos do pai e fazer de sua vida um presente para os outros, no caso, para nós. Muitos santos também agiram assim. Lembro-me, agora, de São Pedro Claver, cujo dia celebramos em 09 de setembro. Ele nasceu na Espanha mas foi missionário em Cartagena, na Colômbia onde morreu em setembro de 1654. Foi chamado de “escravo dos escravos” pois doou  sua vida a serviço dos escravizados numa época de horror para aqueles pobres africanos que desembarcaram nas américas. Ainda que ele quisesse, naquele tempo, não daria conta de abolir a escravidão. Muitos ficaram contra ele pelo simples fato de ele tratar o escravo como gente. Sem condições de mudar muita coisa, simplesmente dizia:  

“Todas as vezes que não imitei o asno, não obtive bons resultados. E o que faz o asno? Quando se fala mal dele, ele se cala; não se lhe dá de comer, ele se cala; se o carregam até o fazer cair por terra, ele se cala; quando se impreca contra ele, ele se cala; nem um lamento por qualquer coisa que deva fazer, ou mesmo quando maltratado; é resistente, sendo um asno. É assim que deve ser um servo de Deus, como recita o salmo 37: “… eu era animal junto a ti”.

Lembremos uma parte do salmo citado:

Mas, eu como surdo, não escuto; Qual mudo, não abro a boca. Sou como homem que não ouve, e em cuja boca não existe contestação.  Porque em ti, Senhor, eu espero! Tu me responderás, Senhor, meu Deus! (...) Meus inimigos estão vivos e são numerosos. São muitos os que me detestam sem motivo, os que retribuem o bem com o mal, e me acusam porque procuro o bem. Não me abandones, ó Senhor! Meu Deus, não fique longe de mim! Vem depressa socorrer-me, Senhor, minha salvação!

Nesse Salmo, o autor manifesta uma profunda confiança em Deus em momentos de perseguições. Ele não perde o foco. Sabe em quem depositou a sua esperança e, mais do que isso, sabe que jamais será decepcionado. Quando nossa esperança está em Deus tudo o mais passa a ser relativo. Há uma música litúrgica que gosto muito cuja letra traduz isso. Vejamos:

Espero em Ti, Senhor,

quando eu vejo que as aves não ceifam mas, cantam teu santo louvor /  Espero em ti, Senhor, quando eu vejo que os lírios não tecem mas, vestem roupagem de luz.

 Quando eu vejo uma Cruz / onde teu coração me provou teu amor, espero por ti, Senhor!

 Espero em ti, Senhor, quando vejo no sol e no orvalho presentes de teu grande amor. Espero em ti, Senhor, pois eu sei que por nós pobrezinho / nasceu o teu filho Jesus.

 Espero em ti, Senhor, quando eu sinto teu sopro de vida aumentar o teu reino de amor.

Espero em ti, Senhor, sei que teu coração vencerá a ingratidão / dos que erram sem luz.

 Sei que um dia virá, quando então haverá um rebanho e um pastor. Espero por ti, Senhor! (1)

 Às vezes é necessário permanecer surdo aos insultos para não desviarmos de nosso foco quando queremos servir a Deus. Estando com os olhos fitos nEle podemos caminhar com firmeza em sua direção evitando os distratores e os perigos da jornada. Pense nisso!

 1 - Espero em ti, Senhor ( Letra e música : Ir. Irene Gomes, MJC)

Imagem de Gerd Altmann por Pixabay 

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  1. Boa tarde Pe Gabriel! Verdade temos que ser surdos e mudos muitas vezes por causa da ignorância humana. Vejo isso com muita tristeza. Sim em Deus coloco minha esperança, contando com sua ajuda espiritual. Vc muito ajuda-me nesta caminhada de fé. Deus o abençoe sempre.

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  2. A quem iríamos nós, Senhor!?! Só Tu tens palavras de vida eterna!!

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  3. Linda reflexão obrigada por nós ensinar

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  4. Boa noite Padre Gabriel cada dia aprendo mais um pouco com o senhor.Deus é muito bom e nós devíamos sempre aceitar a sua vontade bem caladinho

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  5. Mim tocou muito este testo .Espero em te,senhor,quando eu sento teu sopro de vida aumentar o teu Reino de amor.

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  6. É preciso ser como asno. Belíssima reflexão meu amigo. Obrigado

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  7. .."Você, certamente, já ouviu dizer que “a fé sem obras é morta”.
    Sim claro que é morta.

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  8. Como sempre belíssima reflexão! Canção maravilhosa." Sei que um dia virá quando então haverá um rebanho e um pastor. Espero em ti, Senhor!"

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  9. Bom dia,padre Gabriel suas reflexões são sempre uma catequese para para mim. Obrigada.

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  10. ..."Sem Deus não dá para ser feliz"...
    Uma das certezas que temos!

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  11. Muita das vezes parece que somos testados pela paciência, e o silêncio resolve muita coisa, melhor calar-se em diversas situações que dar ibope ao erro.

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