A estrela e o cometa

 

Vejo piscar, timidamente, no céu, uma estrelinha. Os dias passam, as noites chegam e ela está sempre no mesmo lugar, perto da lua que emoldura um belíssimo quadro, atrás da torre da Igreja, em São José da Varginha. Em noites nubladas ela quase desaparece de tão pequena e distante. Mas, se firmarmos o olhar podemos percebê-la, lá, onde sempre esteve, como enamorada da lua. Ao ser notada parece que seu brilho cresce, ainda mais e nos provoca, como criança carente pedindo nossa atenção. Contrastando se, com o fundo escuro do céu, a torre da Matriz de São José, ganha ares de ostentação.

Em sua discrição a estrelinha está longe da beleza escandalosa de um cometa.  Este quando risca o céu parece querer dividi-lo em dois.  Apesar de belos, os cometas são raros e, às vezes, passamos a vida toda sem contemplar um único desfile deles pelo universo.  A alegria que um cometa anuncia, em sua chegada, vem acompanhada de uma triste notícia dos especialistas: - Agora é só daqui a cem anos! A notícia é desalentadora pois, afirma que quem viu, viu; quem não viu nunca mais verá! Eu mesmo, que já desmanchei mais de meio século, nunca vi um mísero cometa. Por isso, me contento em contemplar as estrelas da varanda da Casa Paroquial. É como se, sozinho, tivesse um raro privilégio de assistir ao show de camarote.

Na vida real algumas pessoas se assemelham às estrelas e outras aos cometas.  Um cometa brilha muito e passa rápido.  E olhe que alguns gastam cem anos para ocuparem-se das passarelas! Quanto às estrelas, estão sempre na vitrine do céu e se dão, facilmente, ao nosso olhar. Mesmo quando parecem apagadas podem ser vistas se bem focalizadas pelo observador.  O cometa-gente é aquele que só aparece de vez em quando para fazer o bem e logo desaparece. Às vezes, aparecem juntos também. Eles gostam de distribuir cestas aos pobres, nas vésperas do natal e só reaparecem com as cestas no próximo ano. Os pobres devem jejuar o ano todo e sofrerem de indigestão em cada natal. Estrelas-gente são aqueles que procuram fazer o bem o ano todo e não apenas uma vez na vida e outra na morte. Conheço centenas de cristãos que fazem isso de forma perseverante e constante. Basta lembrar o trabalho dos participantes da Sociedade São Vicente de Paulo... Essa turma se parece às estrelas que brilham o ano todo, discretamente, sem chamar a atenção de ninguém.

Uma das virtudes mais difíceis em nossas vidas é a perseverança. O povo sabe disso quando afirma que: Fogo de palha não cozinha feijão! O fogo de palha é o cometa que brilha muito e passa rápido.  De fato, não se constrói nada, apenas, com entusiasmo passageiro. Que o digam os grandes atletas! Gastam muitas horas de ensaios, duros, para conseguirem uma única performance.  Quantos casamentos terminaram por culpa dos cometas? Quantos empreendimentos humanos não deram em nada porque era só fogo de palha?  Em qual dessas categorias você se encaixa? Durma com um barulho desse! Eu também vou dormir daqui a pouco. Antes, prefiro contemplar mais um pouco, essa amiga distante antes que ela se esconda de vez, atrás do campanário do sino...

Foto em destaque: Imagem de 1980supra por Pixabay 

Segunda foto: Arquivo pessoal