Tremeu a terra...

  Quero me basear no trecho de uma música de congado para comentar algumas leituras bíblicas. Pretendo comentar, rapidamente, uma passagem a...

 


Quero me basear no trecho de uma música de congado para comentar algumas leituras bíblicas. Pretendo comentar, rapidamente, uma passagem atribuída ao Profeta Jeremias, um trecho de São Paulo ao Tessalonicesses e um recorte do Evangelho de Lucas.

Os meus irmãos congadeiros cantam assim:

Tremeu a terra, tremeu a cruz, tremeu o mundo inteiro, só não tremeu Jesus...

Ainda que sem propósito essa música carrega traços apocalípticos. A literatura apocalíptica, na Bíblia apareceu em contextos de dificuldades e perseguições. Por causa disso, o autor não poderia falar claramente sobre o que estava acontecendo. Sendo assim, usou imagens, cores, números e animais para transmitir sua mensagem. Ao falar que o mandatário da Babilônia não era tão forte como parecia o Profeta Daniel o representa como um gigante com pés de barro...

Medo, pavor e morte constituiam a realidade de Jerusalém, por volta de 587 a. C, quando apareceu um escrito atribuído ao Profeta Jeremias com o objetivo de animar os desanimados (Jr 33, 14-16). Na época, Nabucodonosor fez um verdadeiro cerco a Jerusalém, durante um ano, e acabou levando sua população para o cativeiro deixando a Cidade às traças! O contexto, portanto, era de desespero. A leitura citada fala de esperança e restauração. O autor do texto fala de um “rebento de Davi”, um broto novo, ou seja um novo rei que surgirá nos moldes do grande Rei Davi para governar o seu povo com retidão e justiça. O broto era a grande novidade que Deus faria nascer no meio do seu povo.  O que essa mensagem significou para um povo oprimido e sufocado? – Um sopro de ar fresco!  É tudo o que nós ainda precisamos ouvir em véspera de Natal, pois a vinda de Jesus em nosso meio, faz brotar em nós a esperança de melhores dias.

Quando a gente está prestes a receber uma visita importante a gente prepara a casa. Que tipo de preparação devemos fazer para receber Jesus nesse natal?  Seria bem triste se ele encontrasse o nosso coração cheio de teias de aranhas!

Em sua segunda viagem missionária (ano 50) o Apóstolo Paulo visitou Tessalônica e formou no local, a primeira comunidade cristã. Mas, teve que sair de lá, apressadamente, por causa da perseguição dos frequentadores da sinagoga local. Preocupado com a situação daquela comunidade, estando em Corinto, encarregou Timóteo de visita-la, para ver como andavam as coisas por lá. Timóteo constatou que, apesar das perseguições a comunidade estava perseverante na fé, o que causou grande alegria em São Paulo que, por isso, escreveu à comunidade com recomendações do tipo: Sei que vocês continuam perseverante em nossos ensinamentos mas, ainda assim, peço-lhes, que cresçam na vida de santidade.  Permaneçam firmes e cresçam ainda mais na santidade pois, assim, vocês estarão preparados para o encontro com Jesus assim que ele vier...

Essa recomendação de Paulo, não vale apenas para os tessalonicenses. Vale também para cada um de nós que fomos batizados, pois cada um pode e deve se esforçar para crescer na santidade. Santidade não é coisa para heróis mas para pessoas como nós.

Na passagem de São Lucas (Lc 21, 25-28. 34-36), encontramos a seguinte recomendação: Tomem cuidado com vossos corações pesados! Essa recomendação acontece em vista da proximidade da vinda de Cristo: Hão de ver o Filho do Homem vir sobre uma nuvem com grande poder e glória! Pensando sobre o texto eu me pergunto: O que pesa em nossos corações? Carregar esses pesos valem a pena?

O texto nos afirma que o sol vai tremer. Isso não deveria nos assustar pois Deus é maior do que o sol, que a lua e as estrelas. Assustaríamos se Deus tremesse. Aí é que entra a música dos nossos congadeiros. Tudo pode tremer só Deus não treme:

Tremeu a terra, tremeu a cruz, tremeu o mundo inteiro, só não tremeu Jesus...

De outra maneira a música nos diz o quanto tudo nesse mundo é passageiro. Só Deus é absoluto. O natal nos lembra que esse Absoluto entrou, de cheio, na história humana onde tudo é relativo. Depois desse mistério da encarnação nossa história foi para sempre elevada.  Em paninhos deitados repousou aquele que é maior do que o próprio universo! Esse é o mistério dos mistérios: Deus se fez pequeno; o imortal tornou-se humano; humano como nós, para que pudéssemos ser mais elevados...

Foto: Arquivo pessoal


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