Dar a outra face
Desde muito cedo aprendemos que não devemos levar desaforos para casa. Quando reagimos a uma ofensa somos aplaudidos e, se possível, rea...
Desde muito cedo aprendemos que não devemos levar desaforos
para casa. Quando reagimos a uma ofensa
somos aplaudidos e, se possível, reagimos com uma violência maior. Ninguém quer
ser visto como um fraco ou ter a honra ferida sem revanche. As crianças são estimuladas a aprenderem artes
marciais e os adultos a comprarem armas. E assim a gente vai levando a vida na
base do: “bateu levou”, “pagar com a mesma moeda”, “dar o troco” ... Por causa
disso, a lógica da violência não acaba nunca! Talvez, devêssemos aprender que
forte não é quem vence o outro, mas quem vence a si mesmo. Quem consegue
processar a sua ira sem vomitá-la sobre os demais é que dá provas de grandeza.
Quando Jesus nos diz que devemos amar os inimigos ele nos propõe um grande
desafio pois, não estamos conseguindo nem amar, de verdade, nem os amigos... A
proposta cristã, no entanto, é essa mesma pois, vinda de Deus, não poderia ser
pequena. O ideal de vida cristã se
parece ao ideal de um estudante que almeja tirar a nota total na prova mas,
apesar do esforço, nem sempre consegue.
Ser cristão nunca foi fácil pois, o seguimento de Cristo
passa pela cruz. A cruz é uma realidade para todos e, para cada um, ela se
apresenta de um jeito. Jesus nos ensinou a combater a violência com o amor. Não
podemos combater o mal com as mesmas armas usadas por ele. Por isso, devemos
perdoar em vez de vingar e amar, em vez de odiar. Mas, a coisa não é tão
simples assim pois, Deus também não quer que sejamos tapetes para os outros
pisarem. É preciso combater de forma não violenta a origem da violência. Jesus
mesmo questionou o soldado que lhe bateu no rosto: Se respondi mal, mostra-me o
mal. Mas, se respondi bem, porque me bates? (Jo 18,23)
Questionar as raízes da violência e desenvolver ações que promovam a paz faz parte de nossa missão cristã. Precisamos entender o que seja não violência ativa pois, não basta ficarmos quietos enquanto levamos tapas na cara. Mahatma Gandhi, que nem era cristão, soube combater a violência de seu tempo com aquilo que chamou de "Ahimsa", ou seja, a não violência ativa.
Sem
querer simplificar uma questão complexa, podemos afirmar que, grande parte da
violência se funda na desigualdade social, na miséria, desemprego, falta de
segurança e outros males. Qualquer ação que vise minimizar esses problemas
acabam combatendo boa parte das causas geradoras de violência.
A proposta cristã parece ousada demais para nossa situação de
homens fracos. Mas, Jesus não iria propor-nos, algo impraticável. Ele mesmo
enfrentou todas as provações sem perder a capacidade de amar. Tudo se tornaria
mais fácil se víssemos o outro como irmão e não como lobo. Para alguém que já
entendeu isso até o lobo pode ser manso como um cordeiro. Que nos diga São
Francisco de Assis, um santo homem, que conseguiu fazer amizade até mesmo com
um lobo em sua região...
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