Saber priorizar

 

“Maldito de quem confia no homem e põe na carne toda a sua esperança, afastando o seu coração do Senhor”. Jr 17,5.

A afirmação de Jeremias com a qual abro esse texto, deveria levar-nos a reconsiderar algumas coisas em nossas vidas. Há uma poesia de Vicente de Carvalho que diz:

Essa felicidade que supomos, árvore milagrosa que sonhamos, toda arreada de dourados pomos. Existe sim: Mas, nós não a alcançamos porque está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos...

Às vezes, pomos no lugar errado toda nossa esperança. Grande parte das pessoas acha que se acertasse na loteria estaria com todos os problemas resolvidos. Será?  A esses que colocam toda a esperança na carne, ou seja, na matéria, é que Jeremias chama “malditos”. Existe ainda aqueles que não são tão esfomeados por dinheiro mas apostam tudo na procura de uma “alma gêmea”.  Essa turma também pensa que a solução dos problemas esteja nessa “alma gêmea”. Conheço alguns que, ainda alimentam esse sonho, mesmo estando no terceiro casamento...

Onde estaria, então, essa famosa “árvore de dourados pomos”? – Para Jeremias a resposta era clara: - Sem Deus, a felicidade não existe!  Com outras palavras dizia a mesma coisa, Riobaldo, personagem de Guimarães Rosa, em Grande Sertão Veredas: “Sem Deus a vida é burra!”

Quem vive sem Deus, para Jeremias, se assemelhava ao espinheiro da estepe, uma terra salobre, onde ninguém consegue habitar. Ao contrário desses, aqueles que depositam a esperança no Senhor, se assemelham às árvores ribeirinhas que estendem suas raízes em terra boa e os ramos em direção ao céu.

O Profeta foi muito feliz no uso das imagens. O contraste entre elas é bem nítido. Enquanto o cacto padece em terra seca, a árvore na beira d’água cresce e floresce. Comparando os homens com as duas plantas sou tentado a formular uma pergunta para mim mesmo: Quantos homens se assemelham aos cactos e quantos às árvores ribeirinhas? E você? Com qual delas se parece?

Para responder tal pergunta teríamos que clarear algumas coisas. Qual é o principal objetivo de minha vida? – A família! Alguém poderia responder. Parabenizo quem deu essa resposta mas, tomo a liberdade de formular lhes, uma nova pergunta: - E se você perder sua família? Todos nós, em certa medida, perdemos a família pois, os filhos crescem, casam-se e mudam de residência...Eu sei que se dependesse de você, sua família jamais se dispersaria. Mas, “no real da vida, as coisas terminam com menos formato...”

Jeremias não pretende semear uma onda de desconfiança entre as pessoas. É claro que podemos e precisamos confiar no ser humano. O homem é capaz de fazer coisas boas e bonitas. O que ele questiona é a postura autossuficiente daqueles que pretendem construir um mundo sem Deus. Essa foi a mesma postura dos construtores da torre de babel. Seria insensato negar a capacidade humana nos avanços da ciência e da técnica. Já fomos à lua e conhecemos boa parte do universo. Apesar de todos esses avanços, ainda nos afogamos em uma gota d’água e tropeçamos num grão de areia. Li, certa vez, em algum lugar, que uma das dificuldades de alguns astronautas era conviver com os colegas no espaço. Imagine você, o astronauta está envolvido num projeto de milhões de dólares cujas descobertas pode influenciar o mundo todo... Apesar disso, pode se desentender por coisas pequenas. Aliás, não deve ser fácil conviver numa bolha, durante tanto tempo, suportando as diferenças e Idiossincrasias (manias) de cada um, não é mesmo?

Depois de ler e refletir essa passagem de Jeremias a grande pergunta que podemos fazer é a seguinte: Será que sabemos priorizar o que é mais importante em nossas vidas? Para que vivemos? O que me inspira e me faz continuar minha missão? As respostas a tais perguntas são fundamentais para que possamos separar o joio do trigo. Caso contrário, seguiremos pela vida à fora como um jogador de futebol que chuta sua bola em todas as direções sem saber onde está o gol do time adversário...

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