Êxtase na hora da reza

 

Isaías foi um dos profetas que marcou, profundamente, a vida do povo de Deus.  Entre tantas passagens belas de sua vida vou comentar uma, em que ele nos revela um êxtase que teve durante um momento de oração (Is 6,1-2a.3-8):

No ano em que morreu Ozias, rei de Judá, vi o Senhor, sentado num trono alto e sublime; a franja do seu manto enchia o templo. À sua volta estavam serafins de pé, que tinham seis asas cada um e clamavam alternadamente, dizendo: «Santo, santo, santo é o Senhor do Universo. A sua glória enche toda a terra!» Com estes brados as portas oscilavam nos seus gonzos e o templo enchia-se de fumo. Então exclamei: «Ai de mim, que estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, moro no meio de um povo de lábios impuros e os meus olhos viram o Rei, Senhor do Universo».

Um dos serafins voou ao meu encontro, tendo na mão um carvão ardente que tirara do altar com uma tenaz. Tocou-me com ele na boca e disse-me: «Isto tocou os teus lábios: desapareceu o teu pecado, foi perdoada a tua culpa».

Ouvi então a voz do Senhor, que dizia: «Quem enviarei? Quem irá por nós? » Eu respondi: «Eis-me aqui: podeis enviar-me».

Após a leitura desse texto quero pontuar algumas questões:

O medo do vidente: “Ai de mim, estou perdido!” Esse sentimento de pavor após uma grande revelação divina foi algo reincidente em diversos personagens bíblicos.  Depois de uma “pesca milagrosa” Pedro disse a Jesus: - Afasta de mim, Senhor pois, sou um pecador! (Lc 5,8) “O espanto havia se apoderado dele e de seus companheiros”, assim nos diz o texto bíblico. O que acontece nesses casos é que Deus é grande demais e nós somos pequenos demais. É como se toda a água do mar quisesse entrar dentro de um copo!

Na visão de Isaías a presença do Senhor enchia todo o templo pois, o templo era pequeno demais para Deus.  O profeta só via a barra do manto divino e isso já foi o bastante para enchê-lo de pavor, pois, sabia de sua indignidade para suportar tal revelação: “Sou um homem de lábios impuros...”. Enquanto permanecia absorto nessa contemplação um anjo retirou do altar uma brasa incandescente e a passou sobre seus lábios num belíssimo ritual de purificação. Isso o fez tomar coragem. Ao ouvir a pergunta divina sobre quem deveria ser enviado em missão ele prontamente respondeu: Eis-me aqui, envia-me!

Não tenho palavras para descrever a beleza desse chamado. Deus, naturalmente, não precisava do profeta, assim como não precisa de mim ou de você. Além do mais, assim como Isaías também nós temos os lábios impuros e somos cheios de fraquezas. Mas, é preciso lembrar que Deus não chama somente os santos. Ele chama os pecadores e os santifica na missão. Depois daquela visão Isaías nunca mais foi o mesmo. Deus o chamou durante uma liturgia, no templo. Provavelmente, Isaías não estivesse só, naquela celebração mas, só ele foi chamado. Deus não se revela de forma igual a todos nós. Ele chama a cada um de um jeito. Tomara que nossas celebrações, ainda hoje, propiciem momentos de êxtase e de chamamentos vocacionais. Sabemos que Deus continua a chamar homens e mulheres para o seu serviço. Você já considerou que esse chamado possa ser feito a você? Como você tem respondido aos apelos de Deus? Pense nisso!

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