Ataraxia

 

Acho que estou em crise, pois, só uma crise pode explicar essa baita ataraxia que tomou conta de mim. Explico: Ataraxia é uma espécie de indiferença com relação a tudo. No mundo da filosofia é ausência de perturbações, uma espécie de sossego mental ou domínio das paixões. Credo!  Tudo tem que vir seguido de explanações. Explico: Explanações é tornar plana uma superfície ondulada ou corrigir um raciocino embolado... Credo, mais uma vez!  Devia gostar de explanações quem arquitetou Brasília ou qualquer cidade que se pareça a um tabuleiro de xadrez. Tudo pensado em linhas retas para melhorar a mobilidade do transito e assim as pessoas poderem ganhar mais dinheiro em menos tempo. Você, certamente, já ouviu o mantra: “Times is money”!

Penso que a natureza humana não gosta muito de linhas retas. Quem não aprecia as ruas tortas de Ouro Preto e os cantinhos escuros de qualquer cidade? Quem não admira as montanhas de Minas ou as curvas femininas? Já pensou se toda mulher fosse reta e seca como as modelos da “fashion” não sei o quê? Se as montanhas e os rios tivessem formatos retos e geométricos teriam alguma graça? Apesar de não ser mineiro, Oscar Niemeyer parece ter se inspirado em Minas para bolar suas construções cheias de curvas e elegância. Nada contra o Rio onde as praias coroam de espumas os pés das serras, mas talvez, nem isso consiga se igualar às belezas das curvas de nossos rios. Guimarães Rosa talvez, tenha sido o primeiro mineiro, que viu nos rios de Minas, uma metáfora da vida. Assim, o Urucuia era o “Rio do Amor” e o São Francisco um divisor de águas e de suas obras literárias.  Os rios de Minas com suas curvas femininas só perdem em beleza pelas múltiplas montanhas que emolduram nossas paisagens. Em cada curva de ambos se escondem segredos e mistérios. Os rios nos ensinam a paciência e as montanhas a transcendência... Mas, o que importa tudo isso para quem sofre de ataraxia de vez em quando?  Na verdade, comecei esse texto para falar de um estranho perfume que invadiu minha sala e a coisa se descambou para rios montanhas, curvas e retas.

Um perfume gostoso, de rosas, penetrou minha janela e acordou minhas lembranças.  Dizem que durante o velório de “Nhá Chica”, uma Santa do sul de Minas, a igreja toda ficou com perfume de rosas. Esse fenômeno parece comum durante o velório de alguns santos. Assim foi com Santa Terezinha, São Policarpo e tantos outros... Perto de minha janela não existem rosas, só uma trepadeira do mato estendeu seus ramos sobre o cimento quente. De onde, então, me veio esse perfume tão agradável? Certamente, da Matriz de São José, pois, diante da grandeza desse santo até as flores de plástico podem exalar raros perfumes!

Foto em destaque: https://pixabay.com/pt/photos/gato-tigre-tigerle-gato-grande-2439113/