Memória

  Há uma deusa da mitologia grega chamada “Mnemosine”. É a deusa da memória e das lembranças. Nos tempos quando ainda não havia escrita ela ...

 


Há uma deusa da mitologia grega chamada “Mnemosine”. É a deusa da memória e das lembranças. Nos tempos quando ainda não havia escrita ela era a mais cultuada entre os poetas pois, eles dependiam de seus favores para recitar seus poemas de cor. Curiosamente, “De-cor” quer dizer “de coração” e não “de cabeça”.  Mas, não basta ter um bom coração para recitar, de cabeça, um poema de mil versos!

A cultura oral de um povo dependia da memória e não dos livros pois, esses ainda não existiam. Daí a importância de cultuar Mnemosine. Infelizmente, essa deusa hoje está esquecida pois, transferimos nossas memórias para os computadores. Alguns, já não se lembram mais, nem dos nomes de seus avós. Do número do CPF, então, nem pensar!

Confesso que nunca fui muito favorecido por essa deusa. Mesmo quando criança só conseguia guardar uns dois versinhos. Um deles é famoso: “Batatinha quando nasce se esparrama pelo chão” ... Ops! Como se diz mesmo? Se esparrama ou, se faz rama... Viu? Já fui traído pela deusa. Minha vingança ficará para a segunda parte do versinho: “Mamãezinha quando dorme, põe a mão no coração” ... Será que era assim mesmo? Agora estou cheio de dúvidas...

Viram como a deusa me pune? Como se não bastasse o Alzheimer que levou meu pai eu também sou castigado de vez em quando, quando uma palavra ou ideia me foge completamente.  Citar passagens bíblicas? Impossível! Obras de autores? Nem pensar! Diversas vezes, tentei puxar uma citação para enfeitar um pronunciamento e na hora “h” fiquei completamente nu. Isso aconteceu ainda a pouco, quando, por diversas vezes, tentei lembrar um poema de Adélia Prado para enriquecer meus discursos. Mas, que coisa! Por mais que eu puxasse a linha o peixe, digo, o poema, não vinha! Só lembrava que o texto falava de caminhão atolado, de barro na estrada ou coisa do tipo... Lembrava também que alguém dirigia atrás desse bendito caminhão e estava com a mulher do lado sem reclamar de nada... Mas, o nome do texto, Mnemosine escondeu de mim por muito tempo.

Hoje, não sei porque cargas d’água a deusa sorriu para mim e me mostrou, do nada, o texto, quando folheei o livro: Oráculos de Maio. Estava lá, com todas as letras  poema fujão: “Do Amor”!  Só para descontar o atraso, vou descrever parte dele. Mas, o “caminhão atolado” só existia em minha cabeça. O poema não falava nada disso. Vejam só:

Do Amor

Assim que se é posto à prova, na cinza do óbvio, quando atrás de um caminhão vazando o homem que pediu sua mão informa: ‘está transportando líquido’. Podes virar santa se, em silêncio, pões de modo gentil a mão no joelho dele ou a rainha do inferno se invectivas: claro, se está pingando, querias que transportasse o quê? Amar é sofrimento de decantação... etc.  O “etc” é meu e não da Adélia. Respirei aliviado: Louvado seja Mnemosine! – Para sempre seja louvada.

Foto em destaque: https://pixabay.com/pt/illustrations/virtual-realidade-psique-mascarar-4908697/


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  1. Gostei. Pura verdade. Precisámos dessa Deus a.

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  2. Li que vão implantar um chip no cérebro humano com todas as informações possíveis. Acho que vou me candidatar a cobaia. Terei, além de minhas memórias, as do mundo todo...

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  3. Também eu, nunca havia ouvido falar desta deusa! Interessante! Deusa da memória! Quero ser amiga dela, para sempre!

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  4. Parabéns Padre Gabriel como sempre escrevendo belíssimos textos

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  5. Não tinha ouvido falar dessa deusa...em tempos de esquecimentos, ela deve ter muito trabalho.

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  6. Belíssimo texto!! De muitas aprendizagens, "Mnemosine"deusa das memória e das lembranças.Que essa Deusa nos acompanhe diariamente.

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