Rádio: Espaço de Orfeu
Orfeu era um deus da mitologia grega. Sua especialidade era a música, o universo sonoro. Daí sua ligação com o rádio. Diferentemente da tel...
Orfeu era um deus da mitologia grega. Sua especialidade era a música, o universo sonoro. Daí sua ligação com o rádio. Diferentemente da televisão, o rádio é o especialista em som. Através de suas ondas sonoras ele provoca as mais belas reações no ouvinte. Leva-o a rir ou chorar, dependendo da situação.
Mas, falemos ainda mais de Orfeu. Orfeu era filho de Apolo e Calíope. Na infância ganhou uma lira de presente e aprendeu a tocar tão bem, o instrumento, que fazia proezas com ele. Arrancava suspiro nos mortais e paralisava, até mesmo, os fantasmas. Dizem que, quando ele tocava sua lira, até as árvores se inclinavam para ouvir sua música. Teve a sorte de casar-se com Eurídice, uma bela jovem de seu tempo, e teve o azar de perdê-la, logo após o casório. Eurídice foi picada por uma serpente venenosa.
A música de Orfeu entristeceu, de tal maneira, que até o sol parecia sem brilho. Inconformado com a tragédia, Orfeu “desceu à mansão dos mortos” para trazer sua amada de volta. Passou pelos fantasmas da portaria, enfrentou os seus medos e cantou, com tristeza, no mundo de Plutão. Os deuses do mundo inferior vendo o tamanho de sua tristeza acabaram reatando os fios da vida de sua amada. Apesar disso, ele acabou não conseguindo transportar Eurídice. Mas, essa parte da história fica para depois.
O que me interessa é ressaltar o poder da música e, consequentemente, “puxar a brasa para assar minha sardinha”. Sou do rádio. Ele tomou posse de mim e me fez apaixonar por esse universo sonoro que ele gera no ar. Quando estou no rádio não falo para quatro paredes. Falo para alguém que deseja ouvir uma palavra de esperança, encontrar um grande amor, ou simplesmente, sonhar através das notas musicais.
Rádio é espaço de Orfeu. – Quantos fantasmas ele expulsa da vida de que, suspira fundo, ouvindo a música que gosta! – Quantas lágrimas faz brotar nos olhos da mãe, quando ouve a notícia de uma criança perdida que foi encontrada! – Como ele acelera o coração de quem espera ganhar um prêmio anunciado no programa!
O rádio é especialista em imaginação. Ele atua nos neurônios do ouvinte e o transporta para um mundo encantado. O olho, muitas vezes, atrapalha enxergar. São Paulo, para mim, é um exemplo clássico disso. Precisou ficar cego para poder enxergar… Outro exemplo, vem também da mitologia grega: – Tirésias era cego. Mas, foi o único a ensinar Odisseu o caminho de retorno à casa…
Quando eu era criança e morava na roça, costumava cantar para espantar os medos. A gente saia à noite e tinha medo da escuridão nas estradas. Por isso, costumava cantar. Dava certo. O medo sumia. Não raro, a gente se encontrava-se com outra pessoa que também estava cantando, ou assoviando… A conclusão era lógica. Ambos estávamos morrendo de medo. O povo diz que: Quem canta seus males espantam. Espantam mesmo. Já provei isso, diversas vezes. Hoje, levo a música mais longe, através do rádio. Acho que os fantasmas tem medo do rádio. Constato muitos rádios ligados à noite toda, por aí…
Trabalhar no rádio é ter compromisso com a saúde auditiva do ouvinte. Costumo dizer que o ouvido do ouvinte não é paiol. Como tenho experiência da roça, sei que no paiol se guarda de tudo: balaios, arames farpados, cachos de bananas e galinhas chocas! Não quero nunca dar esse tratamento para os ouvidos de quem me acompanha. Quero sim; encantá-los com meu som, minha música, minha mensagem e minha informação. Quero enfeitiçá-los, tal qual Orfeu, que paralisava os passantes com os sons de sua lira. Com um radinho na mão meu ouvinte pode enfrentar todos os fantasmas. Fantasmas não gostam de música. Acho que o diabo também não gosta. Por outro lado, tenho certeza, que os anjos cantam no céu. Esse canto, com certeza é capaz de invejar o próprio Orfeu. Valei-me Santa Cecília!
O Ministério da Saúde adverte: Ouvir rádio faz muito bem à saúde!
Foto destaque: https://pixabay.com/pt/photos/homem-r%c3%a1dio-m%c3%basica-ouvindo-5859643/