Venha a nós, o vosso Reino

 

Havia, no tempo de Jesus, muita inquietação a respeito da chegada do Messias pois, com sua chegada também chegaria o seu reino. Alguns, apostavam todas as fichas num "poderoso chefão",  que expulsaria os romanos (intrusos) da terra santa e recuperaria o passado glorioso de Israel. Sendo assim, o Messias seria um novo Rei Davi. Outros, pensavam que o seu surgimento seria precedido de grandes eventos cósmicos e e cataclismos nunca vistos! Essa crença subsiste até nossos dias graças, talvez, à milionária produção cinematográfica de Hollywood  e, mais recentemente, aos neopentecostais. Assim como Hollywood, os líderes pentecostais também carregam na tinta para falar do fim dos tempos! Essa semente cresce, facilmente, nas mentes mais férteis, criativas e desejosas do inusitado...

Na última virada do milênio surgiram muitos grupos milenaristas que apregoavam a proximidade do cataclismo final. Teve até um deles, que subiu uma montanha, considerada sagrada, para esperar o toque da primeira trombeta. Mas, que eu saiba, o único som que ouviram, a noite toda, foi de pernilongos sedentos pelo último estoque de sangue do universo...

Mas, afinal, o mundo vai acabar ou não vai? – Vai! Mas, só Deus sabe quando. E a paciência de Deus, com nossa falta de juízo, é tão grande quanto a sua eternidade. Talvez, nós mesmos nos encarreguemos dessa tarefa sem a interferência dele.  Quem já marcou data e hora para o fim do mundo quebrou a cara! Qual foi a resposta que Jesus deu ao fariseu que lhe perguntou sobre a vinda do Reino de Deus?(Lc 17, 20-25) Ele disse: O Reino não virá de modo ostensivo! Bastaria essa resposta para calar toda a produção de Hollywood sobre o tema.  

O Reino de Deus não virá por um simples motivo: Ele já veio! Veio com Jesus decepcionando os ansiosos por um "gran finale".  Veio, juntamente, com a simplicidade e discrições próprias de quem não encontrou um berço para nascer  e nem teve sepultura, própria, para ser enterrado.  O Rei Jesus teve  como comitiva, alguns  pescadores, como carruagem, um burrinho, como cetro, uma cana, como coroa, os espinhos e como trono, uma cruz...

O Reino de Deus não acontece com estardalhaços e badalações de sinos. Essas servem mais às nossas próprias vaidades que ao Reino do Céu. Ele se faz presente na ação daqueles que acreditam na força do bem e para fazer o bem não é preciso cornetas. São as latas vazias que fazem barulho! O cristão faz o bem ao próximo por ver Jesus presente nele. “Eu estive nu e me vestiste, estive com fome e me deste de comer...”

O Reino de Deus já está entre nós. Preste atenção: A grande maioria das pessoas que você conhece faz o bem e não se alegra com o mal. Um ou outro, às vezes, apronta! Esses acabam parando nas  manchetes. Alguns meios de comunicação descobriram que é possível fazer audiência com a miséria alheia. Mas, essas notícias, somente são veiculadas, porque também existe um gosto por coisa pobre, em parte da população, que consome e prestigia tudo isso.

O Reino de Deus estará entre nós toda vez que o bem vencer o mal, que o perdão superar a vingança e o amor superar o ódio. São Francisco de Assis entendeu bem isso quando escreveu aquela oração, belíssima, que todos conhecemos. “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz...”  Haverá um tempo, e só Deus sabe quando, que o Reino de Deus será pleno. Por enquanto, “caminhamos pressurosos, na penumbra da fé, até o dia em que formos habitar a Jerusalém celeste, nossa mãe”.  Nesse dia venturoso Deus irá enxugar todas as lágrimas de nossos olhos!

Foto: Imagem de Foto-RaBe por Pixabay