A vida é como um sopro

  Gosto de ver as crianças que brincam nas praças. Outros dias, em meio a balburdia, natural às brincadeiras, vi que a meninada corria atrás...

 


Gosto de ver as crianças que brincam nas praças. Outros dias, em meio a balburdia, natural às brincadeiras, vi que a meninada corria atrás de bolhas de sabão. Um dos meninos com um canudinho na boca soprava as bolhas que flutuavam no ar lançando-se ao vento como se roubasse dele um tempinho a mais de vida. Doce ilusão! As bolhas de sabão duram menos de um minuto, tempo suficiente para se engravidarem do arco-iris... Parece que não se importam com vida longa contentando-se, apenas, com a vida bela. Tai uma grande lição para todos nós! Às vezes, gastamos a vida toda correndo atrás de coisas que só servem para causar-nos preocupações e estresses. Quem sabe, as crianças não poderiam ensinar-nos, a arte de bem viver?

Lendo um texto de Jalaluddin Rumi – O Masnavi – escrito no Séc. XIII, podemos encontrar alguns conselhos interessantes para nossas vidas, inclusive a respeito do que escrevo nesse texto. Mas, quem foi esse autor?

RumiMawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Rūmī), ou simplesmente Rumi ou Mevlana, foi um místico, poeta e teólogo persa que nasceu no, atual, Afeganistão em 1207. Seu nome quer dizer “Majestade da Religião”, pois Jalal significa “majestade” e Din “religião”.  Ele viveu grande parte de sua vida na Anatólia, atual, Turquia, onde se encontra sepultado na Cidade de Conya.  Após sua morte seus seguidores, juntamente, com seu filho fundaram a Ordem Sufi, também conhecida como dervishes girantes. A dança sufi – girante – tornou-se famosa e hoje é conhecida como forma de oração e praticada por seus seguidores.

No Masnavi Rumi diz o seguinte sobre a arte de viver: “Os mortos não lamentam a morte, mas as oportunidades que perderam na vida”(1). Segue parte do texto:

Bem disse aquele líder da humanidade,

Que aquele que se vai desse mundo

 Não chora nem lamenta sua morte,

 Mas chora continuamente as oportunidades perdidas.

Ele diz: Por que não tive a morte sempre em mente,

Que é o tesouro de riqueza e de sustento?

Por que eu, cegamente, afeiçoei-me toda a minha vida.

As sombras vãs que perecem com a morte?

O que lamento não é o fato de ter morrido,

Mas, o de ter me apoiado nessas sombras fúteis da vida. 

Não vi que meu corpo era mera sombra ou espuma,

Aquela espuma que nasce e vive no Oceano (Deus).

...

Como pode a mera espuma mover-se senão pelas ondas?

Como pode a poeira subir ao alto se não for erguida pelo vento?

Quando vês uma nuvem de poeira vê o vento também!

Quando vês a espuma vê o Oceano que a carrega!

Ah, Olha até que possas ver tua própria e verdadeira causa final,

O resto de ti é só gordura e carne, urdidura e trama.

Tua gordura não acende nem luz nem chama em um lampião;

Tua carne modelada não é boa para assar.

Queima, então, todo esse teu corpo com discernimento; Desperta para a visão, para a visão, para a visão!

 O texto de Rumi afirma que na vida somos apenas espuma. Isso equivale à bolha de sabão. O que mais importa é o grande oceano, ou seja, Deus! Ele é o gerador das espumas e a Ele tudo pertence. Nossa vida é apenas um sopro nesse grande mar da eternidade. Basta um pequeno balanço do oceano para que as espumas se evaporem. Mas, o que nos consola é que as espumas não deixam de existir. De alguma forma elas acabam voltando ao Grande Oceano:

 “Quando eu voltar ao mar absoluto,

meus átomos irão resplandecer.

Eu ardo como a vela da paixão.

Hei de viver o instante para sempre” (2)

 As crianças citadas no início desse texto parece que conheciam essa grande verdade da existência: Somos apenas um sopro e a vida dura tanto quanto uma bolha de sabão. Caso, a existência não tivesse um prolongamento espiritual ela seria totalmente sem sentido. O que sustenta e dá sentido a vida é o Grande Oceano, ou seja, o próprio Deus.

 

 1-    Rumí, Maulána Jalal- ud-Din, Muhammad I, 1207 – 1273. Masnavi. Trad. De Mônica Udler Cromberg e Ana Maria Sarda. Rio de Janeiro; Edições Dervish, 1992 -   PP 349

2-    Lucchesi, Marco. O canto da unidade: em torno da poética de Rumí/ Marco Lucchesi e Faustino Teixeira. Rio de Janeiro, Fissus, 2007 – pp 19

Imagem de Mark Jo por Pixabay 

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  1. A vida é um sopro! Que saibamos viver com muita alegria, caridade e Deus no coração!

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  2. Maravilhosa a reflexão. Temos que ler e reler, para ver se assimilamos alguma coisa, porque é isso mesmo: " A vida é como um sopro". Oxalá possamos aprender a viver focando o essencial!!

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  3. Muito Lindo este texto do Padre Gabriel ! Ele representa a cada um de nós,que de uma forma ou de outra,vai refletir sua caminhada no final de sua vida,aqui na terra! Que Deus nos ajude a pensar sobre o que devemos falar, no que devemos agir,ha cada dia de nossa vida.Sem esquecer do exercício da Caridade!

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