Joaquina do Pompéu: Uma onça de brava!
Dona Joaquina, pelo visto, foi mulher correta e tinha muito senso de justiça. Mas, era melhor não bulir com sua moral nem querer aprontar ...

Dona Joaquina, pelo visto, foi mulher correta e tinha muito
senso de justiça. Mas, era melhor não bulir com sua moral nem querer aprontar
com ela ou com seus familiares. Sempre foi católica e tinha muitos amigos padres.
Alguns a visitavam, com frequência e, com eles, ela gostava de conversar. Em
sua casa havia horários para orações e todos participavam desses momentos. No
sepultamento de seu marido ela contou com a presença de doze sacerdotes e
mandou celebrar 600 missas por sua alma (1). Em sua propriedade construiu
cemitério para os escravos e, dentro dos limites daquele tempo, soube
respeitá-los. Melhor que ninguém, soube defender aquilo que acreditava. Por isso, se transformava numa verdadeira onça
quando alguém não respeitava seus limites.
De vez em quando, costumava passar pela região de Pitangui e
Pompéu tal Padre Bruno. Ele “era alto,
espigado e de uma palidez fria de defunto da véspera”. Pelo jeito, era meio
linguarudo e inconsequente. Para conseguir doações alegava cuidar de uma casa
de idosos em Vila Rica, atual Ouro Preto. Estava sempre insatisfeito com tudo e
com todos. Condenava a avareza dos ricos e mesmo recebendo ajudas queria sempre mais. Afirmava que sua
opção pelos desvalidos o impedira de “fazer carreira” na vida eclesiástica. Com
a língua solta andou falando da moral de Dona Joaquina. Dizia que ela era a
mais sovina de todos e que gostava de agradar os escravos bonitões que possuía
na grande fazenda. Um dos parentes de Inácio, marido de Joaquina, João Campos,
o alertou: Cuidado Padre, falar mal de
pessoas honradas pode custar caro em nossa região! Mas, o padre retrucava: Ninguém terá coragem de encostar a mão em
mim. Em padre só se bate da coroa para
cima! Naquele tempo, os padres raspavam o centro da cabeça, de tal maneira,
que o cabelo restante formava uma coroa.
Como em qualquer tempo, naquela ocasião, também não faltavam
fofoqueiros. Por isso, a notícia chegou ao Pompéu de forma ampliada, o que
irritou muito Dona Joaquina. Depois de certo tempo, Pe. Bruno resolveu visitar
o Pompéu e Dona Joaquina ficou sabendo disso, quando ele ainda estava em
Papagaio. Chamou seus escravos de confiança (Cisterna, Veloso e Romano) e
deu-lhes a seguinte ordem: Vocês vão acompanhar Manuel Congo que vai ao
encontro do padre e fazer tudo o que ele ordenar! Com Manuel Congo ela já havia
combinado o castigo ao padre.
Cientes do que deveriam fazer, os escravos tomaram a estrada indo
ao encontro do visitante e ao vê-lo, fizeram uma saudação respeitosa. Em
seguida, seguraram o cavalo e desceram dele o visitante assustado. Amarraram os
seus pés e, pendurando-o, numa árvore e desceram o lenho! Depois de uma surra
bem dada, deixaram o homem no chão e o seu cavalo pastando nas imediações. Não
se sabe o que aconteceu, mas o tal Padre Bruno nunca mais voltou àquela região.
Os escravos, no entanto, foram respeitosos e só bateram no padre da coroa para cima....
Aquele foi um castigo bem criativo que acabou entrando para a história.
1- Vasconcelos
Agripa. Sinhá Braba. 2 ed. Belo Horizonte, MG: Garnier, 2021. P. 177
FoFoto de: Yigithan Bal: https://www.pexels.com/pt-br/foto/fotografia-de-chita-773000/
Eta mulher de coragem e coração duro! Até em padre ela mostrou seu gênio bravo e sem nenhum escrúpulo!
ResponderExcluirEitaaa!!! Essa onça era das brabas kkkk Chica da Silva passava longe....
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