O último desejo do enforcado
Pelo visto, o fato ocorreu bem perto de nós, mais precisamente, na Cidade de Pitangui. Como você sabe, Pitangui arrasta séculos de história!...

Pelo visto, o fato ocorreu bem perto de nós, mais
precisamente, na Cidade de Pitangui. Como você sabe, Pitangui arrasta séculos
de história! É uma pena que boa parte dela seja apagada pelo tempo e pela falta
de registro. Tomei consciência do episódio lendo o romance histórico de Agripa Vasconcelos,
sobre Dona Joaquina do Pompéu. O livro chama-se “Sinhá Braba” e registra fatos
curiosos envolvendo situações e personagens que marcaram a história de Minas,
desde o Séc XVII.
Sobre Dona Joaquina Maria Bernarda da Silva de Abreu Castelo
Branco Souto Maior Oliveira Campos, nome de família de Dona Joaquina do Pompéu,
o texto registra diversos fatos interessantes. Vale lembrar que, segundo o
autor, Pompéu foi o primeiro núcleo organizado da civilização agrária de Minas
Gerais e que Dona Joaquina cresceu muito em reconhecimento por apoiar Dom João
VI e mais tarde Dom Pedro I. Seu apoio ao exército imperial era tamanho que
chegou a adoecer de alegria, pela vitória do mesmo, numa batalha ocorrida na
Bahia, em 1823. Adoecer de tanta alegria pela vitória militar, de fato, era
coisa para poucos! Mas, deixemos para depois a história de Dona Joaquina. Hoje,
vou me ater a um fato ocorrido em Pitangui.
Balduíno era o nome do caburé. Foi criado à solta, pelo
jeito, sem pai e sem limites para nada. Sua mãe nunca o corrigiu e sempre fez
vistas grossas para os erros de seu filho. Chegou a ficar com raiva da madrinha
do menino quando ela tentou alertar-lhe sobre o comportamento do filho. Assim
que Balduíno cresceu deu para roubar, beber e se envolver em todo o tipo de
falcatrua. A mãe sempre fez silêncio e fingia não ver as estripulias do filho.
Quando completou 21 anos Balduíno juntou-se com mais alguns,
para roubar um agiota que morava no Morro de Mateus Leme. Ao perceber a
presença dos ladrões o velho reagiu e acabou assassinado. Enquanto carregava o baú de
ouro em pó, Balduíno foi reconhecido pelos vizinhos. Não tardou a ser preso e
condenado à morte por enforcamento. Na data marcada ergueu-se a forca em Pitangui,
no Largo de São Francisco. O evento deveria ser público e não deixava de ser um
espetáculo para satisfação dos curiosos. Os almotacés (funcionários de
confiança) vestidos com capas pretas percorriam as ruas de Pitangui, convocando
o povo para a “cerimônia” marcada para as 11 da manhã. Para a execução eram
necessários: 10 metros de corda, 620 réis, uma garrafa de vinho Lisboa, 10
tostões, sebo para passar na corda, 30 réis; trabalho do carrasco, dois mil
réis. Soma: Três mil, seiscentos e cinquenta réis. O Juiz que se fazia presente
deveria rubricar esses gastos. Um bom trago de vinho, normalmente era o último desejo da vítima.
Todos estranharam o último desejo de Balduíno. Em vez do
vinho ou das rezas costumeiras, pediu para dar um último abraço na mãe. O
desejo era incomum, mas acabou sendo concedido. Quem poderia negar a nobreza de
um pedido como esse? O condenado foi solto de suas correntes e pode abraçar a
mãe. Mas, na hora do abraço Balduíno mordeu o nariz da velha com tanta força
que acabou arrancando- o com os dentes. –
Isso é para todos saberem que a senhora não me ensinou o caminho do bem,
disse o condenado em alto e bom som. – Não
me ensinou a rezar e a ser bom, favoreceu os meus crimes e se beneficiava com o
dinheiro dos meus roubos. Nunca me abriu os olhos e, por isso, vim parar nessa
forca!
Encerrado o pequeno discurso Balduíno foi para a forca e a
mãe tratou de recuperar-se da dor. Do vexame e da vergonha nunca pode
recuperar-se.
Pitanguí, tem histórias! Um grande abraço a todos os
moradores daquela Cidade tão bonita.
Confira: Vasconcelos, Agripa. Sinhá Braba. 2
ed. Belo Horizonte, MG. Garnier, 2021. Pp 42
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E qual cidade velha não tem grandes histórias. Em Itaúna tinha a Doneta.
ResponderExcluirSenhora bem baixinha que por umas moedas dava pulinhos engraçados pela sua forma física. Não assustava ninguém pelo brilho da sua alma e feliz mesmo com sua aparência exótica.
O melhor que os pais,devem oferecer aos filhos, é investir em uma boa educação,ensinar valores desde pequenos, o certo e o errado para que tenham uma boa formação de caráter.
ResponderExcluirSe isso não acontece o mundo cobra da pior forma.
"Quem.ama educa", é uma grande verdade, e a mãe na história foi cobrada pelo filho que entendeu ser ela a responsável pelo seu destino de vida.
ResponderExcluirAcredito que o exemplo é melhor que a pregação na relação de pais e filhos.
Talvez esta mãe teve medo de perder o afeto do filho ao não cobrar dele o que deveria. Triste história, por não ter um final feliz!
Sabe Padre é uma grande lição para as Mães. Direcionar e ensinar valores para os filhos não nos garante o caminhar certo deles. Mas nos garante a consciência que ensinamos e que quando errarem, saberão como corrigirem e redicionarem no caminho certo, porque o conhecem.
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