Ela aceitou morrer para salvar o marido, acredita?

 

Num tempo de amor em pílulas, como o nosso, as grandes narrativas de amor costumam serem desacreditadas. Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, Eros e Psique... Só mesmo no cinema ou literatura! Talvez, você seja capaz de dar a vida pelo marido, ou, quem sabe pela esposa? Não sei. Cada um sabe de si e do peso que carrega. Mas, preste atenção na história. Pode ser que você mude de ideia.

Havia na Grécia antiga um Rei famoso chamado Pélias. Ele tinha uma filha muito bonita, no passado tudo fica bonito, chamada Alceste. Talvez, ela mesma não gostasse desse nome e quisesse ser chamada de Bruna, Lorrâyne ou Tereza. Mas, o nome de batismo, supondo que houvesse batismo, naquela época, era esse mesmo: Alceste! Se fosse brasileira talvez, fosse Alceste Aparecida da Silva e seria chamada de Cidinha.  Mas, vamos deixar só Alceste, por enquanto.

As propostas de casamento para Cidinha, digo, Alceste choviam de todos os lados. O pai dela resolveu lançar um desafio. Só casaria a filha com o “parsa” que conseguisse atrelar um javali com um leão e desse, uma volta com eles, na praça da matriz, digo, na pista de corrida. Nessa tentativa, muitos mancebos e latagões (homens que mais se parecem à guarda-roupas) perderam a cabeça. Quem já pegou um javali pela orelha que o diga!

Havia naquela região um jovem devoto do deus Apolo. Como se sabe Apolo é a divindade da luz, da inteligência e da flecha. Então, com sua ajuda o jovem Admeto conseguiu a tal façanha. Como prêmio levou Cidinha, ops! Alceste, para sua casa. Além disso, obteve dele uma promessa. Não morreria, tão cedo, caso alguém oferecesse para morrer em seu lugar, quando chegasse a sua hora. Dessa maneira poderia ter uma vida longa com esposa amada e imitar meus avós que tiveram 17 filhos!

Mas, todo homem apaixonado fica meio bobo e com ele não foi diferente. Ficou tão embriagado pela beleza da moça que esqueceu uma coisa importante: Oferecer um sacrifício a Ártemis, deusa da lua. Isso, pelo visto, era uma prática necessária aos recém casados. Àrtemis que, no Brasil, virou marca de Sutiã, não deixou barato. Na lua de mel, encheu a cama deles de serpentes... Foi uma correria só! Não deve ser agradável ver uma naja se deslizando em sua direção na hora do clímax, não é mesmo? E agora José? Quem poderia salvá-lo? Na época, ainda não existia o Chapolin Colorado. Mais uma vez sobrou para Apolo a tarefa de salvar o seu devoto.

O tempo passou e chegou a hora de Admeto abotoar o paletó, bater as botas, vestir o paletó de madeira e subir pró alto da gabiroba. Em Pará de Minas havia essa expressão, pois, o cemitério Santo Antônio, fica no Morro do Segredo, local denominado, por alguns, de “alto da gabiroba”. Na hora “H” ninguém apareceu para salvar a vítima. Nem mesmo seus pais quiseram a oferta de morrer para dar mais alguns anos de vida ao filho. Os velhos ainda queriam aproveitar a vida e já não se importavam tanto com a vítima do cupido. Sabe quem se ofereceu para morrer e, de fato, morreu em lugar de Admeto? Ela mesma, a Cidin.., ops, Alceste. Agora me diga se essa história não faz derreter o coração?

Quem comandava uma parte do território na mansão dos mortos era uma deusa chamada Perséfone, a deusa da agricultura. Dizem que ela tinha um bafo terrível. Mas, isso não posso provar.  Ao constatar que Alceste morrera por amor, ficou tão comovida com o gesto que resolveu devolvê-la à vida. Por isso, Alceste e Admeto ainda vieram felizes por muitos anos. Esse final, comovente, foi só para agradar aos leitores que, adoram finais felizes. Viram? Eu também sei fazer média, mas ainda não consegui atrelar leões com javalis.

Imagem de Margit Wallner por Pixabay