Jesus: Um Deus fora de si
O Evangelho de São Marcos (Mc 3, 20 - 21) nos traz um pequeno relato sobre a relação de Jesus com seus parentes. Vejamos: Naquele tempo,...

O Evangelho de São Marcos (Mc 3, 20 - 21) nos traz um pequeno
relato sobre a relação de Jesus com seus parentes. Vejamos:
Naquele tempo, Jesus
voltou para casa com os discípulos. E de novo se reuniu tanta gente que eles
nem sequer podiam comer. Quando souberam disso, os parentes de Jesus saíram
para agarrá-lo, porque diziam que estava fora de si.
Jesus era grande demais para ser entendido, até mesmo, pelos
parentes mais íntimos. Ainda hoje, parece loucura quando alguém deseja
segui-lo, de forma mais radical. São Francisco de Assis e, muitos outros, foram
considerados loucos por causa de Cristo. Como entender a decisão de alguém que
abre mão de tudo o que tem para dedicar sua vida aos leprosos como foi o caso
de São Damião de Molokai?
Não sejamos severos com os parentes de Jesus. Eles conheciam
a lei e os perigos que Jesus estava correndo e, por isso, quiseram protegê-lo.
Se você folhear a Bíblia, mais precisamente, o Evangelho de Marcos (Mc 2, 1 –
3, 6) verá que Jesus se envolveu em cinco grandes polêmicas. Para facilitar sua
leitura vou enumerá-las abaixo:
1-
Quando
curou e perdoou os pecados daquele paralítico que chegou até ele descendo, com
maca e tudo, por um buraco no telhado. Os doutores da Lei o acusaram de blasfêmia;
2-
Quando
fez a refeição junto com os pecadores na casa de Levi. Isso, custou-lhe
críticas, pelos doutores da lei do partido dos fariseus;
3-
Questão
do Jejum: Foi criticado porque nem ele, nem seus discípulos, jejuavam;
4-
Questão
do sábado: Foi acusado de não respeitar o descanso sabático porque colheram
espigas em dia de preceito;
5-
Curou
em dia de sábado o homem da mão paralisada...
Na lógica dos doutores da lei, autoridades importantes
daquele tempo, Jesus havia incorrido em muitas contravenções. Poderia ser,
facilmente, enquadrado como falso profeta e charlatão. A pena para esse tipo de
crime era a sentença de morte. Veja abaixo:
1-
Se
alguém não ouvir as minhas palavras, que esse profeta vai pronunciar em meu
nome, eu mesmo pedirei contas a essa pessoa. Contudo, se o profeta tiver a ousadia
de dizer em meu nome alguma coisa que eu não tenha mandado, ou se ele falar em
nome de outros deuses, tal profeta deverá ser morto (Dt 18,19-20).
2-
Nesse
dia, oráculo do Senhor, cortarei da terra os nomes dos ídolos, para que nunca
mais sejam lembrados. Também expulsarei da terra os profetas e o espírito de
impureza. Se alguém profetizar novamente, o pai e a mãe que geraram esse indivíduo
lhe dirão: Você não ficará vivo, porque falou mentiras em nome de Javé. O pai e
a mãe que o geraram o transpassarão, enquanto estiver profetizando (Zc 13,
1-3).
Diante do que foi exposto fica mais
fácil entender o comportamento dos parentes de Jesus. Eles quiseram “agarrá-lo”
antes que os inimigos o agarrassem e o matassem sob acusação de falso
profetismo. Capacidade para isso eles tinham, e como tinham! Jesus, envolvido
em tantas controvérsias, certamente, estaria correndo muito perigo. Numa
situação assim, os parentes quiseram protegê-lo levando-o de volta para casa. Eu
também e, certamente, você faríamos a mesma coisa em casos semelhantes.
De uma coisa não podemos nos
esquecer: - Jesus é Deus e como tal pensa e age diferente de nós! Jamais
conseguiremos entender, plenamente, os seus caminhos porque somos pequenos e
limitados. Como entender, por exemplo, um Deus todo poderoso, criador do céu e
da terra que assume a nossa condição e morre quase abandonado numa cruz de
madeira? Sinceramente, é demais para nossas cabeças!
A acusação que fizeram contra Jesus
talvez, foi a mais acertada de todas. Ele é um Deus fora de Si! E quem o levou
a isso foi o seu grande amor por nós. Diferente do egoísmo que leva a pessoa a
pensar somente em si, Deus é amor e, portanto, fora de si. O amor é que nos
leva a pensar no outro e se preocupar com ele. Tomara que percamos também a
cabeça nesse sentido!
Foto: Arquivo pessoal