O ilustre passageiro do barco
Nunca tive familiaridade com barcos e, muito menos, com o mar. Confesso que tenho medo do mar até quando o vejo pela TV, afinal, sou minei...

Nunca tive familiaridade com barcos e, muito menos, com o
mar. Confesso que tenho medo do mar até quando o vejo pela TV, afinal, sou
mineiro e, minha familiaridade é com o trem, e com quase tudo o que essa
palavra significa. Até comi um “trenzinho” antes de começar a redigir esse
texto. Depois disso senti um “trem esquisito”, uma espécie de coceira nos
nervos, e, por isso, decidi escrever.
Há muita diferença entre um barco e um trem. Enquanto o primeiro
se caracteriza pela leveza o segundo se distingue pelo peso; enquanto um flutua
o outro só se desliza sobre os trilhos; enquanto um se perde à deriva o outro
apenas segue rotas definidas...
O Evangelho de São Marcos (Mc 4, 35 – 41), mostra-nos, uma
cena de desespero vivida pelos apóstolos dentro de um barco. Talvez, se eu
estivesse naquele barco, teria desmaiado só de medo. Veja bem, minhas razões: -
Um barco não tem chão e nem teto confiável e pode ser jogado pra lá e pra cá
feito brinquedo de crianças. Pode afundar ou virar de acordo com o tamanho das
ondas. Para piorar a situação dos
apóstolos já era noite e começou uma grande ventania. Diante disso, você não
tem saída: Se ficar o bicho pega, se correr o bicho come! O bicho, no caso, era o próprio mar agitado.
E que bichão! Um bicho que já engoliu
navios, aviões e até a vaidade de muita gente.
Diante daquele quadro de horrores os apóstolos,
aterrorizados, se esqueceram do mais importante: Havia um ilustre passageiro
entre eles e, naquele momento, parecia dormir. Era Jesus, que acordou, aos
arrancos com alguém lhe perguntando: O Senhor não se importa conosco? Estamos
em perigo! Jesus não respondeu àquele
discípulo. Apenas levantou-se do barco e ordenou ao vento: Silêncio!
Cala-te! No mesmo instante, o vento
cessou e houve uma grande calmaria. Ato contínuo voltou-se para os discípulos e
perguntou: Por que sois tão medrosos?
Ainda não tendes fé? Eles sentiram grande medo e diziam uns aos outros: “Quem
é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”
Quem é este? Hoje também podemos nos perguntar. Que voz poderosa
é essa que acalma o mar e os ventos?
Essa é a voz de Deus! Voz que criou o céu, a terra, o mar e tudo o que
existe. Então, era de se esperar que a
natureza lhe fosse submissa.
Os apóstolos, mesmo estando no mesmo barco com Jesus, pareciam
não confiar muito e, por isso, ficaram cheios de medo perguntando uns aos
outros: Quem é esse a quem até o vento e o mar lhe obedecem? Nós também corremos
esse risco. Supondo que nossa vida seja uma travessia é preciso ter coragem
porque toda travessia contém momentos perigosos e o mar de nossa existência nem
sempre é marcado por calmarias. Às vezes, pensamos que nossa embarcação também
irá ao fundo. Em tais momentos é preciso
se lembrar do passageiro ilustre. Afinal, “não dorme e nem cochila o guarda de
Israel...”
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