Morte de gente famosa
É gozado ver a alegria contida nos olhos daqueles que gostam de antecipar a má notícia. Logo de madrugada, espalham a novidade pelas rua...

É gozado ver a alegria contida nos olhos daqueles que gostam
de antecipar a má notícia. Logo de
madrugada, espalham a novidade pelas ruas. Usam sempre o mesmo pretexto para iniciar
a conversa: - Você já ficou sabendo da notícia? Após essa curta preliminar a
coisa vai longe... Alguns, não resistem à tentação de apanhar o telefone e
espalhar o fato entre os amigos e conhecidos.
A família do morto, a essas alturas, reduzida a farelo, perde o domínio
do corpo do falecido para a funerária. O pessoal da floricultura abre mais cedo
as geladeiras e tomam as providências. É provável que muitos encomendem coroas
para a ocasião. Também ligam para meia dúzia de pessoas e oferecem suas flores,
com cheiro de formol, como manifestações de pesar e amizade.
Em certos casos de morte, o que mais interessa, é a quebra da
rotina na vida das pessoas, pois, muitos desejarão ver o morto. As motivações
para isso são várias: Os mais chegados
querem ver se o corpo mudou muito; os inimigos querem ver se a pessoa morreu de
verdade. Alguns, até se vestem melhor para a ocasião e os óculos escuros são
necessários para esconder a ausência das lágrimas. Os políticos, com raras exceções, se farão presentes. Não perdem, por nada
deste mundo, a aglomeração gratuita de pessoas que poderão ser eleitores. O funcionalismo público comparece, em peso, para agradecer ao morto o ponto facultativo...
A morte de uma pessoa famosa é um “prato cheio” para a
imprensa, quase sempre à cata de assuntos interessantes. Ninguém quer perder o “furo de reportagem”,
pois, sai na frente a audiência daquele que anunciou primeiro. Morte repentina
pega todo mundo de calça na mão e, por isso, não tem graça. É quase uma “sacanagem”
com a imprensa! Quando a morte está prevista, os profissionais do ramo podem
preparar a notícia com antecedência. Ganha pontos aqueles que investem mais na
produção. Por isso, investigam, antecipadamente, tudo o que disser respeito ao falecido. O trabalho fica tão perfeito, que a morte da
vítima serve, apenas, para coroar o esforço da investigação e torna-se, assim,
uma espécie de cereja do bolo.
Morte de pessoas anônimas não tem graça. Os “anônimos”, a grande
maioria de nós, se empolga mesmo é com a morte dos famosos. É uma espécie de vingança de classe. É como
se dissessem: Viu papudo? O que adiantou ter dinheiro e ser famoso? Você também
vai para a cidade dos pés juntos igual a toda gente!
A morte é a única instituição, verdadeiramente, democrática,
pois nivela todo mundo. O que varia, no caso dos famosos, é a parte dos acessórios
como as coroas, de flores, por exemplo. Afora isso, é tudo a mesma coisa
inclusive a originalidade das frases nas coroas: Eterna saudade! Eternas
saudades, com “S” para dizer que a saudade irá atingir muitos corações. Ah,
vai!
Sob o ângulo do impacto, na opinião pública, a morte
trágica fala mais alto que outras
modalidades de mortes. “Morrer como um
passarinho” não garante público ao velório.
Para garantia de público basta correr a notícia: Morreu todo
arrebentado! Nesse caso, muitos querem ver o estado do morto. Os comentários
vão longe: “Coitado”, não deu nem para abrir o caixão! Você viu a viúva? Ela
chorava com um olho só...
Dizem que vamos ao velório para ver em quê, o morto se
diferencia de nós. Faz sentido! Parece que a gente vai para se certificar que está vivo pois, alguns,
não tem muita certeza disso. Quando a barba do vizinho pega fogo a gente coloca
a própria barba de molho. Ninguém quer estar no lugar da vítima mesmo que ela
seja famosa. Virá um dia, no entanto, que inevitavelmente, estaremos nesse
lugar, feito bolo de aniversário, com o nariz para cima e todo coberto de flores.
Se alguém estiver com pressa pode ir primeiro. Não faço a mínima questão de
ocupar esse primeiro lugar. Que Deus o tenha!
Foto: Arquivo pessoal
Muito verdadeira a crônica. É desse jeito mesmo...
ResponderExcluirBoa tarde! Quanta verdade nessa crônica! Parabéns!
ResponderExcluirTodos deveriam ler..
Adorei...
Não é à toa que as postagens mais vistas e com maior engajamento são aquelas relativas à morte, sobretudo por desastre. Em segundo lugar aparecem os memoriais e obituários. "Vamos ver quem morreu." A morte continua na moda, muito atraente para muitos.
ResponderExcluirParabéns pela crônica que tem todas as nuaces de como acontece mesmo com a noticia da morte, principalmente se teve algum destaque em vida.
ResponderExcluirPadre a descrições que faz torna agradável a leitura, porque se
Aproxima da realidade.
E quando tem pinga, o Sr esqueceu desse tipo. A morte é de quem é esquecido
ResponderExcluirEu não sei se choro ou se dou risadas,mas é assim mesmo, é um verdadeiro tititi, observa tudo e todos. Vcs viram quantas coroas ele recebeu? E a viúva estava desconsolada... e por aí vai...entre um cafezinho e outro..
ResponderExcluirPadre Gabriel que reflexão cheia de realidades!Neste mundo nascemos, crescemos e vivendo no amor,permanecemos em Deus.Feliz de quem aprender que na hora da morte somos todos iguais,porque viemos do pó,e para ele voltaremos! Obrigada
ResponderExcluir