Voçorocas do inconsciente
Talvez, isso já lhe tenha acontecido e, quem sabe, você nunca teve coragem de revelar publicamente. Quem de nós, já não se sentiu perdido ...

Talvez, isso já lhe tenha acontecido e, quem sabe, você nunca
teve coragem de revelar publicamente. Quem de nós, já não se sentiu perdido e
sem rumo, na vida, de vez em quando? Até mesmo os grandes santos da igreja
tiveram seus momentos de noites escuras.
“A vau do mundo é a coragem”, dizia Guimarães Rosa, escritor
mineiro, mas é preciso ter coragem também de encarar os próprios abismos. Bem mais
difícil que enfrentar as voçorocas do sertão é mirar de frente os monstros que moram
em nós.
As voçorocas são buracos retorcidos pela ação das enxurradas
que, aos poucos, vai cavando imensos sulcos na terra como se lhe abrisse o
ventre e deixassem expostas suas entranhas mais profundas. No livro “Opera dos
Mortos”, de Autran Dourado, há um personagem, Juca Passarinho, que tem medo das
voçorocas. Elas o fazem lembrar que, todas as coisas, por mais sólidas que
sejam, são engolidas pela ação do tempo. Em última instância o faziam lembrar
da morte, que a tudo põe um ponto final. Com o passar do tempo, as voçorocas
se transformam em verdadeiros abismos que além, de ossos de esqueletos antigos,
abrigam nos seus penhascos, os ninhos dos urubus. A presença dos urubus, como se
sabe, denunciam outra presença que a gente insiste em não lembrar: a morte!
O desenho das voçorocas se parece ao traçado do cérebro
humano e, assim como elas, ele também esconde nas dobraduras de suas memórias,
verdadeiros fantasmas do passado. Entre as dobras do nosso eu profundo existem grandes abismos! O abismo é um espaço onde o nada parece mover-se com
liberdade. Mirando o côncavo do espaço celestial o que notamos é um aparente
vazio, um abismo infinito cujas distâncias ignoramos completamente. Alguém sabe
onde se fixam as estrelas nessa concha infinita? Nesse espaço vazio dançam
nuvens e astros; sol e lua brincam nele de esconde-esconde.
Quando contemplamos a imensidão do mar, sua grandeza nos faz
enxergar o quanto somos pequenos. Ele também abriga, em suas profundidades,
escuridão e mistério. Alguém já varreu o fundo dos oceanos para desvendar os
seus segredos?
Abrigar abismos não é prerrogativa do céu ou do mar. Ele está
enraigado no mais profundo de cada pessoa humana. Esses abismos, às vezes, nos
atropelam e povoam nossos sonhos. Quem já não se imaginou cercado de monstros,
num pesadelo dantesco e acordou suando com taquicardia? De onde surgiram estranhas
criaturas senão de nossas voçorocas mais profundas? O que explicaria a loucura
humana senão a existência de tais abismos? Onde fica a linha divisória que
delimita esses espaços da loucura e lucidez? Talvez, fique dentro ou muito
acima de nós mesmos...
Talvez!
Amei muito o texto e a música me fez voltar ao passado onde um grande amigo meu me enviou a mesma kkkk
ResponderExcluirEu sou feliz como sou e " ....mais louvo e quem diz que não é feliz..." ..." Eu juro que é melhor.naonser o normal se eu posso pensar"....
ResponderExcluirParabéns pela beleza de texto...Amei.
ResponderExcluirOs abismos do inconsciente nos dão as chaves da nossa existência... É preciso perscrutar no mais profundo da alma, lá onde existe o baú das coisas perdidas...
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