A vida é eterna em cinco minutos
O Cantor Chileno Victor Jara, assassinado com 44 tiros, pela ditadura chilena, em 11 de setembro de 1973, soube, como ninguém, cantar o amor...

O Cantor Chileno Victor Jara, assassinado com 44 tiros, pela
ditadura chilena, em 11 de setembro de 1973, soube, como ninguém,
cantar o amor e traduzir em suas canções as dores e alegrias de seu povo. Na
música (traduzida abaixo) “Te recuerdo
Amanda,” ele fala de encontros rápidos (cinco minutos) entre Amanda e
Manuel (nome de seus pais) nos intervalos do trabalho. A música denuncia as
precárias condições dos trabalhadores de uma fábrica. No dia-a-dia, o que os salvam dessa dureza, são os encontros entre Amanda e Manuel. São cinco minutos que valem
uma eternidade! Num dia fatídico, no entanto, Manuel não compareceu ao encontro.
Fora vítima de acidente de trabalho!
A música “Construção”, de Chico Buarque (ver abaixo) também
trata dessa questão, onde um corpo cai da construção feito “um pacote flácido”
e permanece ali gozando de absoluta indiferença dos passantes que vêm aquele
corpo, apenas, como impedimento ao trânsito:
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se
fosse um pássaro
E se acabou no chão
feito um pacote flácido
Agonizou no meio do
passeio público
Morreu na contramão
atrapalhando o tráfego
Essa mesma indiferença, diante da dor alheia também foi
denunciada por Victor Jara: Um corpo foi destroçado pela serra e após cinco
minutos a sirene apitou e todos retornaram ao trabalho com absoluta
normalidade. Só Manuel não retornou...
Te recordo Amanda, a
rua molhada,
Correndo à fábrica onde
trabalhava Manuel…
O sorriso largo, a
chuva no cabelo
Não importava nada, ias
a encontrar-te com ele…
Com ele, com ele, com ele, com ele…
Que marchou para a
serra,
Que nunca fez dano, que
marchou para a serra,
E em cinco minutos
ficou destroçado…
Soa a sirene, de volta
ao trabalho
Muitos não voltaram…tão
pouco Manuel.
Desejei comentar essas músicas porque vivemos numa época onde as músicas carecem de boas letras e de poesia. Estamos órfãos de boas músicas e a grande maioria delas, fazem apologias às bebidas, traições amorosas ou quase nada. Parece que não se tem mais ideias! É claro, que nem tudo está perdido, mas, tenho sede de novos compositores que cantem o amor e a vida de forma poética e que não façam apenas um trabalho publicitário para atender ao “mercado”. É bom saber que sucesso nem sempre combina com talentos. Quando se tem muito dinheiro ou marcas fortes que patrocinam, até um lixo costuma cair no gosto popular. Quem não se lembra das torturantes "lives", na época da pandemia, patrocinadas por grandes fabricantes de bebidas ou mesmo políticos corruptos? Deus me livre!
Que nos venham, urgentemente,
novos Victor Jaras, Chicos Buarques e outros mais!
Te recordo Amanda
Victor Jara
a rua molhada,
Correndo à fábrica,
onde trabalhava Manuel…
O sorriso largo,
a chuva no cabelo
Não importava nada,
ias a encontrar-te com ele…
Com ele, com ele, com ele, com ele…
São cinco minutos. a vida é eterna em cinco minutos.
Soa a sirene, de volta ao trabalho
E tu… caminhando o iluminas tudo,
Os cinco minutos te fazem florescer
Te recordo Amanda, a rua molhada,
Correndo à fábrica onde trabalhava Manuel…
O sorriso largo, a chuva no cabelo
Não importava nada, ias a encontrar-te com ele…
Com ele, com ele, com ele, com ele…
Que marchou para a serra,
Que nunca fez dano, que marchou para a serra,
E em cinco minutos ficou destroçado…
Soa a sirene, de volta ao trabalho
Muitos não voltaram…tão pouco Manuel.
Te recordo Amanda, a rua molhada
Correndo à fábrica onde trabalhava Manuel…
(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)
Construção
Chico Buarque
Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão, atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado
https://images.app.goo.gl/ejXn9F12xVQVginA9
Parabéns padre Gabriel
ResponderExcluirComposições maravilhosas!!! Compositores espetaculares!!!
ResponderExcluirPrecisamos de mais qualidade musical porque está mesmo carente de compositores com letras de mais conteúdo para se ouvir.
ResponderExcluirInteressante que temos musicas que nunca serão superadas, mas a maioria atualmente que fazem sucesso, com o tempo não serão lembradas.
Eu fiquei muito chateada com o Chico Buarque quando lançou a musica com meu nome Geni porque o que ele faz vira um clássico. O nome deixará de ser escolhido pelos pais, mesmo assim eu o perdoo kkkk.
Precisamos é que apareça mais Chicos e outros grandiosos como ele.
Parabéns Padre
ResponderExcluirObrigada