Ontem estive com Deus!

 

A noite estava escura e chuvosa, um verdadeiro convite à saborear um caldo quente e enfiar-se debaixo dos cobertores. Mas, como sou muito espartano em cumprir minha agenda, dirigi-me, a uma das minhas capelas rurais para presidir a Eucaristia. Não existe valor maior e nada mais importante do que a Eucaristia! Como sempre acontece, cheguei mais cedo à Comunidade e pude conversar com os presentes. Quem encontrei no local?

Um pai de família com sua esposa que, após o dia inteiro no batente, se dispôs a cantar na celebração. Sua esposa com braços fortes, como toda mãe, sustentou o filho que dormia em seu colo durante toda a celebração; a zeladora da capela, com alegria no semblante cansado, foi direto da faxina para a missa. Chegou mais cedo, abriu a igreja, limpou, enfeitou e organizou todo o ambiente; a esposa do coordenador, que chegou em cima da hora, levando um cafezinho gostoso que nos foi servido após a celebração; no banco de trás, duas mães cada uma com o filho nos braços, tentando concentrar na oração e acalmar as crianças...

No barzinho, em frente à igreja, alguns homens conversavam entre si sem incomodar ninguém. Preferiram não participar da celebração. Deus respeita nossas escolhas e não força ninguém à nada. Cada um sabe de si e Deus sabe as razões, profundas, de cada um ao fazer ou deixar de fazer alguma coisa.

Naquela pequenina e afastada capela rural, Cristo, mais uma vez, se ofereceu como alimento aos presentes que estavam com fome de Deus.  Naquele lugar simples e com poucos participantes, Deus se manifestou tornando o espaço o ambiente mais importante do mundo!  Eu, que nada sou, pude perceber a santidade no rosto de todos os presentes. Imaginem o que Cristo não teria percebido?

Jesus, certa vez, agradeceu ao Pai por Ele ter revelado os seus segredos aos pequenos e simples e escondido, os mesmos, aos sábios e entendidos. De posse dessa informação, ontem pude vê-lo, de perto, no rosto das pessoas simples que, apesar do cansaço do dia, se esforçaram para rezar comigo.

Saul o primeiro rei de Israel, foi chamado ao serviço divino enquanto procurava os burros fugidos de seu pai. Humanamente falando, não existe muita nobreza em campear burros fugidos.  Mas, nesses trabalhos mais simples podemos ter verdadeiros encontros com Deus. Engana-se, quem pensa que é preciso se revirar pelo avesso para experimentar o amor de Deus. Ontem, tive grande experiência desse amor que me foi revelado por pessoas simples que, apesar do cansaço do dia, se esforçaram para participarem da missa numa noite escura e chuvosa.

Deus seja louvado!

Foto: Capela Nossa Sra. Aparecida - Lagoa Branca. Arquivo pessoal.