Ryunosuke Akutagawa e a frágil condição humana
O meu lazer predileto é a leitura mas, nem tudo o que leio consigo comentar depois. Recentemente, li bons autores e, por alguma razão desc...

O meu lazer predileto é a leitura mas, nem tudo o que leio
consigo comentar depois. Recentemente, li bons autores e, por alguma razão
desconhecida, não tive inspiração para resenhas. Os comentários, em vídeos,
visam incentivar meus seguidores para as boas leituras. Hoje gostaria de falar
um pouco sobre um autor japonês que assanhou meu desejo de falar sobre ele e
sua obra. Trata-se de Ryunosuke Akutagawa. Ele nasceu em Tóquio, no ano de 1892 e morreu
com apenas 35 anos. Perdeu os pais muito cedo e foi criado por um tio. Sua mãe
morreu em 1902, vítima de doença mental. Esse fato marcou toda sua vida de
escritor pois, temia ter um fim parecido com o de sua mãe.
Desde cedo Ryunosuke Akutagawa tinha gosto por literatura. Em
1913, ingressou na Universidade Imperial de Tóquio, onde estudou literatura
inglesa. Na Era Meiji (1867 a 1912, data da morte do Imperador Meiji), aconteceu
no Japão uma grande abertura ao Ocidente. Nesse tempo, muitos livros ocidentais
entraram no Japão e lhe deram a oportunidade de conhecer grandes escritores como:
Voltaire, Rousseau ou Anatole France. Foi grande apreciador de Goethe, Edgar
Allan Pöe, Franz Kafka,Dostoievsky e muitos outros... Na Universidade de Tóquio iniciou sua fértil
produção caracterizada por pequenos contos. O seu primeiro conto “Rashomon”(1915)
foi um grande sucesso.
“Rashômon” fala do
absurdo da escolha, dentro de um Universo absurdo e sem sentido. Fala de um dia
vivido por um funcionário que perdera o emprego há um tempo. Rashômon é um
homem miserável, sem perspectivas de futuro. Numa noite chuvosa de Inverno não
encontra lugar para dormir. Abriga-se
debaixo da Porta de Rashô onde vão deitar o lixo e se encontram mesmo os corpos
dos assassinados pelos bandidos. Nada tem sentido e sente um desespero
absoluto: a alternativa da sua vida naquele fim de tarde de chuva torrencial é
voar ou matar. Acaba a brigar com uma velha tão miserável quanto ele. Ambos à
procura de comida, aquela pobre mulher enquanto rouba os mortos arranca-lhes
tufos de cabelos e junta-os num saquinho para fazer uma peruca. Absurdo dos
absurdos, tudo é absurdo(1)
Após 1921, Ryunosuke Akutagawa começou a ter problemas
de saúde mental e passou a ter alucinações, além de problemas
gastrointestinais. Em junho de 1927 foi vencido pela depressão e acabou tirando
a própria vida.
“As histórias de
Akutagawa falam do absurdo da existência, da miséria social e moral, dos
deserdados da sorte, dos ladrões por necessidade ou por profissão, dos
assassinos, da loucura que se apodera subitamente dos homens e os leva a atos
incompreensíveis. O autor viveu em casa de parentes adotivos muito mais velhos
do que a mãe e foi “educado à maneira antiga e mergulhado numa atmosfera
impregnada de cultura tradicional, que a vaga ocidental não tinha ainda
aflorado”
Os seus livros situam-se muitas vezes na época do Japão feudal e violento
do período Edo e anterior - na Idade Média, no século XVI japonês, tempo de
trevas e de lendas, de feiticeiros e de bandidos.
Em 1950, o realizador
japonês Akira Kurosawa - um dos melhores realizadores do Japão - escolhe o
conto "Rashômon" para um filme. E é esse filme que vai tornar
conhecida no Ocidente a obra do escritor(1)
Os contos de Ryunosuke Akutagawa são curtos e densos. Refletem uma cultura japonesa medieval, um
mundo violento e hostil, não muito diferente do período medieval europeu. Ao
ler os seus contos fiquei muito pensativo sobre o homem vivendo em situações
extremas onde um mendigo ladra, feito cão, somente para ganhar uma laranja e
matar a própria fome (2).
Os absurdos não estão muito longe de nós. Toda forma de
guerra acaba sendo absurda e mostra o pior lado do ser humano. Infelizmente,
ainda vivemos guerras e catástrofes naturais. Nesses contextos percebemos o que
há de melhor e também o que há de pior no ser humano. Talvez, por isso, os
contos de Akutagawa são tão atuais.
2-
Confira
o conto: “Au” no livro: Akutagawa – Rashômon e outros contos, pág 153