A trouxa do dia
Quando eu era jovem, ela frequentava a mesma igreja minha e participava da missa todos os dias. Dona Lia era lavadeira profissional e vivi...
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Quando eu era jovem, ela frequentava a mesma igreja minha e
participava da missa todos os dias. Dona Lia era lavadeira profissional e vivia
desse ofício. Buscava as roupas sujas, nas casas dos clientes e, no outro dia, as
devolviam lavadas. Para transportar as roupas fazia uma grande trouxa que era
carregada sobre a cabeça. Quando ia buscar ou entregar as roupas dava uma
paradinha na igreja que ficava no seu trajeto e participava da missa. Sempre de
bom humor, perguntava ao funcionário: Onde posso deixar a minha trouxa do dia
até a missa terminar? Por causa da profissão, a gente nunca a via sem estar
caminhando equilibrando sua pesada trouxa na cabeça. Aprendi com Dona Lia que
todos nós carregamos uma trouxa do dia. São as preocupações e ansiedades
próprias de nossas vidas. Alguns, ganham de Dona Lia, pois, conseguem, a muito
custo, carregar três trouxas: A do presente, a do passado e a do futuro. Uns se
preocupam com os vestibulares dos filhos, que ainda estão em fase de amamentação... Esses
carregam a trouxa do dia e a do dia de amanhã. Outros, seguem pela vida
arrastando as frustrações e marcas do passado. Como se não bastassem carregar as
trouxas do presente carregam as trouxas do passado. Corremos o risco de
termos o presente roubado pelo excesso de preocupações com o futuro e as
frustrações do passado.
No Evangelho de São Mateus (Mt 6, 24 -34) Jesus repete seis
vezes a afirmação: “Não vos preocupeis”! Mais adiante, no mesmo texto afirma que os lírios
do campo não tecem e nem fiam e, no entanto, nem Salomão se vestiu tão bem quanto
eles... Esta é uma das passagens bíblicas mais lindas! Ela serve para aliviar
nosso excesso de preocupação e ansiedade.
Atualmente, temos preocupações exageradas com a “previdência”
e esquecemos da “providência”. Se Deus cuida dos pardais e dos lírios do campo
Ele haveria de descuidar de algum dos seus filhos? Afinal, será que não valemos
mais do que os pardais? São Gerônimo dizia que “o trabalho deve ser feito mas a preocupação deve ser desfeita”. Inácio de Loyola aconselhava que: “Devemos agir como se tudo dependesse de nós
mas, sabendo que tudo depende de Deus.” E o Salmo reforça: “Se Deus não constrói a casa, em vão
trabalham os construtores” (Sl 127, 1 – 5).
Confiar na providência divina não significa descuidar de
nossas obrigações, afinal, temos contas para pagar e tarefas a cumprir. Mas, é preciso
ter claro que tudo depende de Deus, pois, sem ele nem poderíamos estar aqui, para
trabalhar e cumprir nossas tarefas. É preciso acreditar que Deus quer o nosso
bem, ainda quando não entendemos a sua vontade.
Existem pessoas que andam tão estressadas e tensas que só relaxam
as expressões faciais depois de mortas. Nunca vi defunto estressado, pois,
estresse foi feito para os vivos ou para quem ainda não aprendeu a arte de viver. Vejo ainda, que o tempo dos velórios está encurtando cada vez
mais e isso não é culpa do morto, mas, dos vivos. Tenho medo que me enterrem
ainda quente sem que eu nada possa fazer. Mas, isso não me importa pois, quando
estiver nesse estado já estarei, completamente, nas mãos de Deus.
Para concluir cito mais uma vez o que Jesus disse no mesmo
Evangelho mencionado acima: “Para cada dia
bastam seus próprios problemas...” Apesar disso, não sabemos viver sem
carregar o mundo nas costas feito Atlas, o deus da mitologia grega. Não quero
imitar Atlas, quando muito imito Dona Lia e procuro carregar somente a trouxa
de cada dia.
Foto: Arquivo pessoal
Deus é Providente. Pro significa antes e vidente, aquele que vê. Deus é aquele que vê primeiro, portanto sabe o que é bom ou ruim para cada um de nós! Peçamos a Ele o que necessitamos, mas coloquemos tudo em suas mãos. Ele que vê antes, fará sempre o melhor em nossas vidas!
ResponderExcluirEsta reflexão me fez ver o tanto de "trouxa" eu carrego, carrego as três trouxas e muitas vezes peço a Deus para que me ajude a carregar estas trouxas a aliviar o peso, mas ainda acho que preciso confiar mais em Deus pois a " provisão é de Deus" .O que mais pesa é a trouxa do passado que carrega mágoas, a trouxa do futuro é para mim necessário mas a trouxa do presente é ardua, ela pesa muito pra mim mas tenho que confiar que Deus vai fazer com quem cada trouxa pese menos, só Ele para me carregar nesta caminhada.
ResponderExcluirAo ler o texto amarrei a carapuça no pescoço!!! Serviu direitinho!!! Sempre peço a Deus que aumente a minha fé pois a última palavra sempre será dele! Fico imaginando que ele deve ficar olhando e pensando como é fraco o ser humano! Fala muito, preocupa muito e faz tão pouco!!!
ResponderExcluirParabéns pelo texto que retrata a nossa realidade! Procuro carregar apenas a trouxa do dia.
ResponderExcluirPreocupações são inúmeras, mas a que mais me incomoda é perder a fé nas pessoas. Porque em Deus eu nunca vou perder.
ResponderExcluirA gente que não tem paciência com Deus né padre
ResponderExcluirMais que uma bela reflexão, um puxão de orelha! Obrigada, padre Geraldo.
ResponderExcluirCarregar somente a minha trouxa do dia basta. Só que em nosso dias atuais, pessoas que se acham no direito de nos atribuí suas trouxa. Eu só peço a Deus força para conseguir cumprir minha jornada que assim me concedeu.
ResponderExcluirGrande verdade as mensagens do texto e claro do Evangelho. Deveriamos já ter aprendido a confiar nas providencias Divinas em nossa vida e assim aliviar de muitas preocupações.
ResponderExcluirRecitar Salmo é uma fora eficaz de Pedir de Louvar e Agradecer porque são palavras que vem em nosso auxilio, afinal como disse o Papa, o compositor foi inspirado pelo Espirito Santo.
Quanto a música nos lembra pessoas tão viciadas em trabalho que se tornam escravos e nem percebem que são.
Quanto mais leio os seus textos,mais eu aprendo, que Deus continue abençoando suas mãos para continuar escrevendo.
ResponderExcluirEu também quero carregar somente a trouxa de cada dia que já é bem pesada.
Que texto lindo! Realmente, de tanto vivermos de passado e de futuro estamos saboreando muito pouco o presente.
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