O amor e o seu avesso
Conheci um casal que brigava mais do que cão e gato diante de um prato de leite. Nunca soube, verdadeiramente, quem estava com a razão ou ...

Conheci um casal que brigava mais do que cão e gato diante de
um prato de leite. Nunca soube, verdadeiramente, quem estava com a razão ou quem
teria levado a pior. Às vezes, chegavam às vias de fato e, realmente, “garrafam
de unhas”, conforme eles mesmos diziam. Apesar
dos constantes desentendimentos a relação de ambos continuava mais firme do que
nunca. Mesmo quando agredida pelo marido
ela não o denunciava, talvez, porque também fosse agressora. Pelo visto, aquele casal, precisava desse
combustível inflamável para tocar suas vidas. Após as brigas ela costumava
dizer: Ele é terrível, mas não consigo viver sem sua companhia. Por isso, a
gente segue “entre tapas e beijos”.
Tentando entender aquele “angu” encontrei algo parecido na
mitologia grega: Eros (Cupido) deus do amor e filho de Afrodite (Vênus) sempre
foi muito apegado à mãe. Era um menino “agarradinho” e teve dificuldades para
crescer. Será que não seria normal para alguém que nunca se desgruda da saia da
mãe? Preocupada com o menino Afrodite aconselhou-se com Têmis, a deusa da
justiça e essa a orientou para arranjar um segundo filho. Foi daí que nasceu
Antero. A coisa deu certo. Após o nascimento de Antero, Eros começou a crescer
e a se desenvolver.
Assim como são diferentes os dedos da mão, os filhos de
Afrodite também eram muito diferentes. Eros, o deus do amor tinha fama de
atirar flechas nos corações levando as pessoas a se apaixonarem. Antero era
especialista em vingar o amor zombado. Nesse caso, sofria com ele, aquele que
desprezasse um amor declarado. Apesar das diferenças Eros e Antero eram irmãos
e caminhavam juntos. Afrodite, a mãe procurava amá-los igualmente, afinal era a
deusa do amor.
Afrodite também tinha seus segredos, alguns bons e outros não.
Mesmo casada com Hefesto, o ferreiro do
céu, na verdade, um casamento arranjado, ela não primava pela fidelidade ao
marido. As más línguas diziam que ela já havia se deitado com Marte, o deus da
guerra. Sendo assim, traia o ferreiro com o guerreiro. Pelo visto tinha a tal “síndrome
da Carlota Joaquina”, ela mesma, a Princesa do Brasil. Não deixa de ser curioso
que a deusa do amor tivesse tanta facilidade em se “entender”, com o deus da
guerra. Será que esses dois já se separaram algum dia? Essa é uma grande
interrogação que alimento. Assim como o leitor também carrego outros
questionamentos. Como explicar, por exemplo, a relação amor e ódio que marca a
vida de tantos casais? Será que Eros
ainda precisa de Antero para crescer? Creio que não. O amor não pode se
alimentar do ódio ou tê-lo como sua segunda face. Pelo contrário, o ódio é a
negação do amor. De qualquer jeito vale a reflexão. Porque alguns casais
procuram sempre adubar o amor e ao mesmo tempo aquilo que lhe nega?