Os filhos de Zebedeu

  A mãe dos filhos de Zebedeu fez um pedido inusitado a Jesus: Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à direita e o ou...

 


A mãe dos filhos de Zebedeu fez um pedido inusitado a Jesus: Manda que estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à direita e o outro à tua esquerda! O pedido, no entanto, foi precedido de certa encenação, pois o texto afirma que ela ajoelhou-se... (MT 20, 20 – 28). Pelo visto, era uma mulher bem labiosa e sabia usar suas armas para alcançar os seus objetivos. Qual mãe não é assim, quando se trata de defender interesses dos filhos? Lembro-me de uma que, certa vez, me procurou na Rádio alegando que o filho já nascera cantor. O rapaz tinha um talento nato e uma voz de Pavarotti... Diante desse cartão de visita me prontifiquei em ouvir o artista. Iche! Nem vou comentar! A voz do camarada parecia um carro de boi desafinado. Pedido de mãe quase sempre é suspeito...

No caso do Evangelho, temos dois tipos contrastantes de comportamento. Enquanto Jesus procurava a Glória de Deus, os filhos de Zebedeu procuravam a própria glória. Quem busca a Glória de Deus costuma esquecer-se de si mesmo e da própria imagem. Quem busca a si mesmo jamais se esquece do próprio ego. Esse culto à imagem chama-se “idolatria”. “Eidolon + latreia” = Adoração da própria imagem. Comportamento que costuma levar à morte e que não é raro no mundo de hoje.

Abro um parêntese no texto para falar de Narciso, personagem da mitologia grega que morreu afogado, embriagado com a própria imagem, refletida no lago. Quando ele  nasceu, Tirésias (sábio) profetizou sobre o menino: Se ele não contemplar a própria imagem terá vida longa! Caso contrário...  Seus pais não entenderam o oráculo. O tempo passou e o menino se tornou jovem e adulto. Sua beleza era estonteante. Todas as ninfas o assediavam e ele desprezava, igualmente, todas elas. A deusa da justiça ficou irada com a vaidade do jovem e o sentenciou: Você ainda vai sentir a rejeição na pele para ver o quanto dói um amor desprezado. Não deu outra! Certo dia, Narciso se viu na superfície da água e apaixonou-se, imediatamente, por aquela imagem. Passou dias e dias numa profunda contemplação sem saber que contemplava a si mesmo. Assim que tentava tocar a imagem a água bulia e a imagem ficava distorcida. Um dia, no limite da paixão, caiu no poço e morreu afogado. Com pena dele as deusas o transformou numa bela flor amarela que costuma ficar virada para o espelho d’água. Desde então, essa flor foi chamada de Narciso. A história de Narciso pode ser lida em Ovídio, no capítulo III, do livro Metamorfoses.

Os filhos de Zebedeu buscavam a glória para si mesmos. Queriam ser admirados e invejados por todos. Na verdade, buscavam a “van- glória”. Devemos buscar a imagem de Deus em nós e não a nossa própria imagem. Esse culto vazio leva à morte e não contribui, em nada, com o Reino de Deus.

Tiago e João, os filhos de Zebedeu teriam uma longa história pela frente. Ainda bem que entenderam a proposta de Jesus. Hoje são dois santos! Mas, nem todos conseguem sair do narcisismo. E o que é pior: Quando morrem não se transformam em flores!

Imagem de Frauke Riether por Pixabay

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  1. É muito triste ver uma pessoa que pensa somente em si. Infelizmente hj em dia, as pessoas estão com essa atitude, pensando somente em seu bem estar. Precisamos aprender que, " se vc não serve para servir, vc não serve para viver" A vida passa rápido demais, quando se vê não fizemos nada de bom. Essa reflexão faz com que possamos pensar em aprender novamente. Mudar nossa atitude e encher nossos corações de misericórdia. Belo texto Padre Gabriel.

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  2. Bela reflexão com linguagem de fácil entendimento

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  3. O senhor é incrível Deus abençoe sempre continuando com suas reflexões

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  4. Pincei do texto a palavra nacisista para fazer meu comentário, porque parece que estamos vivendo um mundo com um amor excessivo pela própria imagem, por si mesmo, tem parecido ser normal.
    É o que tenho pensado quando vejo principalmente jovens com seus celulares fazendo a self sem parar.
    Também incorro nesta prática algumas vezes, mirando para mim tendo sempre ao fundo um belo cenário.
    São os atrativos dos recursos dos celulares, mas que não seja ao culto ou sentimento narcisista.

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