Não baixe a guarda!

Tudo começa assim: É um traguinho hoje, uma festinha com os amigos amanhã, uma pescaria depois e quando se percebe a vaca já foi pro brejo. Aliás, se fosse só isso, seria coisa de pouca monta, pois, nem toda vaca que vai pro brejo entra em atoleiro. Mas, conosco a coisa funciona diferente, pois se a gente baixa a guarda os vícios podem tomar conta de nós. E olha que o leque dos vícios é muito grande. Ele vai desde as redes sociais, aos refrigerantes. Viram como eu fui bonzinho e nem falei de coisa mais pesada?

Certo dia, aconselhando seus discípulos Jesus disse: Mantenham os rins cingidos, as lâmpadas acesas e as sandálias nos pés... (Lc 12, 35 – 38). Naquele tempo, não se usavam calças como hoje. As túnicas eram largas e, se não fossem amarradas à cintura, atrapalhariam a caminhada. Manter os rins cingidos, então, era uma forma de dizer: Estejam sempre prontos para iniciar uma caminhada ou uma rota de fuga em qualquer momento... Isso valeu para orientar os hebreus quando eles abandonaram o Egito, terra da escravidão, rumo à terra de Canã, a terra da liberdade. (Êx 12, 11).

Jesus orientou os seus discípulos, e a nós, porque nossa vida é passageira e, se não tomarmos cuidado, podemos ser surpreendidos pela morte a qualquer momento, sem estarmos preparados. A morte não marca hora e nem avisa quando vai chegar. Por isso, não podemos baixar a guarda nem relaxar na prática do bem. Alguns parecem não lembrar-se dessa realidade. São tão gulosos com bens materiais que descuidam, completamente, de fazerem uma preparação espiritual. Caixão não tem gaveta e não levaremos nada desse mundo a não ser o bem que praticamos. Ganhar dinheiro e ter as coisas não é pecado, mas o erro começa quando depositamos toda nossa segurança nos bens materiais como se eles fossem eternos. Um dia, e talvez, não demore,  eu e você seremos, apenas, lembranças por um curto espaço de tempo. É duro dizer isso, mas é a mais pura realidade.

No Evangelho citado, Jesus compara sua volta como a volta de um noivo. A imagem é muito linda, pois ninguém vai chorando ou se lamentando ao encontro do noivo prometido.  No caso, nós fomos comparados à noiva que deve estar vigilante à espera do amado. Tenho medo de cochilar no meu posto de vigia. Santo Ambrósio dizia que: “Se a alma está adormecida, Jesus passa por nós, sem bater à nossa porta, mas, se o coração está desperto, bate e pede que lhe abramos...”(1)

Jesus, certamente, passa muitas vezes por nós, ao longo de um único dia. Será que percebemos sua presença? Santo Agostinho dizia: “Tenho medo da graça que passa sem que eu a perceba”. De fato, isso pode acontecer com cada um de nós. Motivos para distrações não faltam. Por isso, é preciso estar bem atentos e não relaxar no cultivo da espiritualidade e na prática de bons costumes. A meditação diária da Palavra de Deus, a oração do rosário, ou a leitura de um bom livro pode nos ajudar muito nesse sentido. Quando a gente não tem um propósito de crescer espiritualmente, nossa mente fica vazia e sujeita a todos os ventos. Nem todos os ventos nos levam ao porto seguro que é Deus. Pense nisso!

1-     Santo Ambrósio – Comentário ao Sl 18. “Op.Cit.” por Francisco Fernanez Carvajal – Falar com Deus, Vol 5 – PP 253.

Imagem de Peggy und Marco Lachmann-Anke por Pixabay