A vida de fugitivo do Cura D’Ars - Texto 02
Não deve ter sido fácil se esconder debaixo de um monte de palha e ainda sentir a ponta de uma espada picotando o seu corpo sem poder grit...
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Não deve ter sido fácil se esconder debaixo de um monte de
palha e ainda sentir a ponta de uma espada picotando o seu corpo sem poder
gritar... Foi isso que aconteceu, certo dia, com São João Maria Vianney. Pode
parecer absurdo, mas, foi isso mesmo que ocorreu. Por uma série de razões ele foi
escalado para servir ao exército Francês e acabou não comparecendo em suas
fileiras. Por isso, foi considerado desertor. Por um bom tempo teve que se
esconder na casa de pessoas amigas e fugia sempre diante das buscas da polícia.
Naquele tempo (1809) Napoleão Bonaparte recrutou muitos
soldados para o seu exército. Entre eles estavam jovens, antes da idade militar,
e até mesmo pessoas mais idosas. Os cléricos e seminaristas estavam dispensados
desse serviço. Mas, como o nome de João Maria Vianney não estava na lista dos
seminaristas ele acabou sendo recrutado para o serviço militar. Para isso,
definitivamente, não levava o menor jeito. Não se sabe ao certo o que aconteceu,
mas ele acabou perdendo os prazos para se apresentar e foi levado ao esconderijo
por algumas pessoas que também não concordavam com essa política do estado.
Quando algum “soldado” desertava do exército, sua família
pagava muito caro. Tinha que abrigar outros soldados que passariam a viver à
custa da família do desertor e tal família passava a ser vigiada o tempo todo.
Se a família conseguisse arranjar um substituto pelo desertor ela poderia pagar
o preço dessa negociação e apresentar aquele membro ao estado. Mas, o preço era
caro e a família Vianney não tinha recursos. Por isso, tiveram que aguentar
muito tempo a presença incômoda dos soldados que vigiavam sua casa até que
Francisco completasse maioridade. Quando isso aconteceu ele foi servir ao
exército em lugar do seu irmão “fugitivo”. Para que essa troca acontecesse a
família teve que pagar três mil francos, o equivalente à herança que caberia ao
irmão Vianney. Assim, Francisco, também
conhecido por “Cadete” “foi incorporado ao 6º Regimento de Linha e pôs-se em
marcha para Phalsbourg, onde chegou em 20 de outubro”. Os pais de Francisco
nunca mais o viram e as últimas notícias que tiveram dele chegaram em 1813.
Pelo que consta, ele morreu com 36 anos, em Sabóia, após ter se licenciado do serviço militar.
Essa situação familiar trouxe inúmeros sofrimentos a São João
Maria Vianney. Ainda que ele não fosse, totalmente, culpado por ter fugido do
serviço militar acabou causando sofrimento em muita gente, inclusive, a seus
pais. Escondido em casa de Claudina Fayot, Vianney teve que mudar de nome e
passou a ser chamado de “Jerônimo Vicent” (*). Claudina Bouffaron era viúva de
Pedro Fayot e mãe de três filhos. Tinha um coração de ouro e foi muito prudente
no caso de Vianney. Afirmou a todos que ele era seu primo e colocou-o para
dormir no paiol, juntamente, com seu filho mais velho. Diante da menor ameaça
de buscas da polícia Vianney escapava pelas frestas do paiol e sumia de vista.
Numa tarde de verão de 1810, a polícia deu uma busca na região. Vianney não teve tempo de fugir e se escondeu
sob um monte de feno. A polícia chegou e investigou tudo. Para ter certeza que
não havia ninguém debaixo das palhas um soldado usou a ponta de seu sabre (espada
curva e afiada) para averiguar o local. Apesar da viva dor que sentiu, Vianney
permaneceu mudo sem dar sinal de vida. Foi assim que se escapou da prisão
naquele dia. Mais tarde usaria esse exemplo em suas pregações ao falar aos
pecadores: “Quando era refratário
(fugitivo) parecia-me sempre ver os soldados aproximarem-se de mim. Dessa
maneira o pecador, com seus remorsos, teme, a cada momento, cair nas mãos da
justiça divina”.
Vianney não fugiu do serviço militar de propósito. Ocorreu
uma série de situações, inclusive doenças, e ele acabou perdendo os prazos para
comparecer. Por isso, foi considerado desertor. Falando sobre esse episódio o
conde Garets, burgomestre de Ars, explicou muito bem esse acontecimento de
1810: “ O Padre Vianney foi levado por circunstâncias, sem premeditação
alguma de sua parte, ao estado de deserção”.
Seja como for, esse e outros episódios, nos revelam as dificuldades
de uma pessoa que, apesar de muito santa, teve que enfrentar inúmeras provações
em sua vida. Os santos não nascem prontos e santidade não é privilégio de
poucos. Cada um de nós pode ser mais santo ou menos santo dependendo da maneira
como correspondemos às graças de Deus.
*https://ggpadre.blogspot.com/2016/08/jeronimo-nome-de-guerra-de-um-santo.html
TROCHU, Francis Cônego. O Cura D’Ars. São João Maria Vianney.
Petrópolis, RJ. Vozes, 1960. II edição. Obra premiada pela Academia Francesa.
Foto: Arquivo pessoal
Sua benção Padre Gabriel
ResponderExcluirEu penso que todos nós nascemos para ser ser Santos. É o que Deus espera de seus filhos.
Para se chegar à santidade muitas são as provações que enfrentamos. Não dadas por Deus, que nos consola em todas as nossas aflições, mas, postas ao nosso derredor, pelo demônio, por inveja do próprio Deus. Exemplo maior disso está na estória da vida de Jó! Vale a pena ler, também, o livro de Jó! Excelente texto, Pe Gabriel!
ResponderExcluirA santidade só vem depois do calvário. Pensamos muitas vezes, que levar a vida com leveza, sem responsabilidades, sem amor ao próximo. Mas todo ensinamento cristão, nos mostra o contrário. Só seremos santos depois de passar por inúmeras provas. Jesus nunca disse que seria fácil, somente que, no final alcançaremos a graça.
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