O Cura D’Ars e a inveja do clero

  Que um padre possa sentir inveja do outro, infelizmente, acontece. Não deveria, mas, acontece, pois, somos humanos e sujeitos ao pecado. I...

 


Que um padre possa sentir inveja do outro, infelizmente, acontece. Não deveria, mas, acontece, pois, somos humanos e sujeitos ao pecado. Isso não é novidade na história da Igreja. Uma das vítimas dessa inveja do clero, ou pelo menos de parte dele, foi São João Maria Vianney, o Cura D’Ars. Isso aconteceu durante os primeiros anos de sua vida paroquial. Na velhice, o reconhecimento de sua grande santidade já era senso comum, mas, na juventude ele sofreu bastante com os invejosos. Tinha fama de não ser inteligente e, apesar disso, arrastava multidões. Alguns de seus colegas não entendiam esse mistério. Como um padre limitado daquele jeito, poderia exercer tanta atração nas pessoas?

Era sabido que Padre Vianney não se preocupava, minimamente, com vaidade. Por isso, alguns o acusavam de desleixo. Pensavam que ele deveria se preocupar mais com um “Dress codi” ou seja, com uma maneira correta de se vestir. Outros diziam que suas atitudes eram só um jeito de chamar a atenção. Em diversas ocasiões sentiu esse desprezo dos colegas em relação a ele. Numa uma das conferências mensais que participou percebeu que o pároco vizinho não quis assentar-se ao seu lado pelo fato dele não ter um chapéu decente... Alguns faziam gracejos quando se referiam a ele. Algo do tipo: Isso assenta bem para o Cura D’Ars... Quando se diz Cura D’ars se diz tudo...

Certa vez, o Bispo de Belley, presidia um jantar de encerramento de missão na casa paroquial de Trévoux. Quis que o Pároco Vianney se assentasse a seu lado, mas, escutou quando um dos padres afirmou: Como isso pode acontecer? Nem a faixa na batina ele usa! Ao ouvir isso o Bispo afirmou: - O Cura D’Ars sem a faixa vale mais do que outros com faixa e tudo... Não era difícil perceber o veneno nas falas e atitudes dos seus colegas. Alguns diziam: O Cura D’Ars pode até ser zeloso e bom. Mas, ele cursou teologia?

Ao ver que se formavam verdadeiras romarias para Ars, alguns sacerdotes ameaçavam os seus paroquianos para que não fossem e chegavam a negar absolvição aqueles que confessavam terem ido. A principal acusação contra o Padre Vianney era de ignorância, algo que ele mesmo sempre admitiu com certo exagero: - Quando me acho entre os outros sacerdotes sou como o Bordin (este era um idiota daquela região). Em todas as famílias há um filho mais rude que os irmãos. Pois bem, entre nós eu sou esse filho... Em sua velhice ao ver um retrato seu, mal desenhado dizia: Sou eu mesmo. Veja como tenho cara de idiota...

A fama de ignorante aplicada ao Cura D’Ars era muito injusta. Ele falava bem o francês, e tinha grande sabedoria para instruir seus fiéis. Às vezes, errava, de propósito, principalmente, diante de pessoas importantes. Não queria ser escravo da vaidade. Dizia que a principal virtude para vencer o demônio era a humildade e por isso procurava cultivá-la a todo custo. Talvez, por isso mesmo conseguiu vencer as muitas investidas do diabo contra ele.

Certa vez, o Cura D’Ars recebeu uma carta bem agressiva que dizia, entre outras ofensas: Sr. Cura, quando alguém sabe tão pouco teologia como V.  Revma.  não se deveria sentar num confessionário! Triste e com a carta na mão, nosso santo queixou-se com uma pessoa amiga que lhe disse após ouvi-lo: Não dê confiança para isso, Sr. Padre. Deve ter sido escrita por algum mal educado. Padre Vianney respondeu: Não, meu caro, foi escrita por um padre! Eu não ligaria para isso se tal comportamento não tivesse ofendido a Deus... Em seguida Padre Vianney respondeu ao autor da carta com as seguintes palavras: - Meu querido e venerável colega, quantos motivos tenho eu para amar V. Revma. V. Revma é o único que me conheceu bem. Visto eu é tão bom e se dignou interessar-se por minha pobre alma, ajude-me a conseguir a graça que peço de há tempo, a fim de que seja removido do meu cargo do qual não sou digno por causa de minha ignorância, e possa retirar-me a um canto para ali chorar a minha pobre vida.  Quanta penitência a fazer, quantas coisas a expiar, quantas lágrimas a derramar! ...

As perseguições dos colegas padres ajudaram Pe. Vianney a crescer na humildade. Certa vez, caiu em suas mãos um abaixo-assinado contra ele. Tal documento seria encaminhado ao bispo. Ele acrescentou sua própria assinatura ao texto e escreveu em seguida: O presente documento tem a minha assinatura. Não faltarão provas convicentes... Numa outra ocasião, durante o retiro do clero, disseram ao bispo que Padre Vianney era louco. O bispo retrucou: Quisera eu que todo o meu clero tivesse um grãozinho, que seja dessa loucura...

 

Obs: As citações acima, foram tiradas da seguinte obra:

TROCHU, Francis Cônego. O Cura D’Ars. São João Maria Vianney. Petrópolis, RJ. Vozes, 1960. II edição. Obra premiada pela Academia Francesa.

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