Há uma música, muito cantada, na Igreja Católica, no tempo do advento, que fala da esperança do povo, em tempos melhores com a vinda...
Há uma música, muito cantada, na Igreja Católica, no tempo do advento, que fala da esperança do povo, em tempos melhores com a vinda de Jesus. Vou citar-lhe um trecho:
A Boa-Nova proclamai com alegria. Deus vem a nós, Ele nos salva e nos recria. E o deserto vai florir e se alegrar. Da terra seca, flores, frutos vão brotar...
Gosto muito dessa música. Ela me faz imaginar um cenário em transformação. O deserto vai se transformar em terra fértil; a vida vai ganhar novo colorido e a esperança vai voltar. Isso é bonito demais para um mundo que anda tão carente de sonhos! O Profeta Isaías, fala dessa transformação melhor do que ninguém:
Os pobres e indigentes buscam água e não a encontram; estão com a língua seca de sede. Eu, o Senhor, os atenderei. Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei. Sobre os planaltos desnudos, farei correr água, e brotar fontes no fundo dos vales. Transformarei o deserto em lagos e a terra árida em fontes (Is 41,17-18).
Um pouco mais adiante o profeta insiste no tema da transformação, sem levar em conta os pecados do povo. Por meio dele Deus promete transformar a charneca em terra fértil. Charneca é um tipo de terreno árido, pedregoso e pouco produtivo, embora, no Brasil, signifique o oposto: área pantanosa e cheia de vida! No mundo bíblico é deserto mesmo. Tal imagem foi usada pelo Profeta Isaías (Is 43,19), repetidas vezes, ao falar da libertação do povo dos inúmeros cativeiros enfrentados. Na libertação do cativeiro do Egito Deus abriu um caminho no mar. Na libertação do cativeiro Babilônio Deus vai abrir rios na charneca (deserto). A imagem não poderia ser mais bela! Faz lembrar um batismo de água e de fogo. Na travessia do Mar Vermelho, as águas se abrem. Na passagem pelo deserto as águas refrescam. O deserto lembra o calor que a tudo queima. Lembra o fogo.
“Se passares através das águas, estarei contigo, através dos rios não te submergirão, se passares pelo fogo não te queimarás” – Isaías 43,2.
Apesar desse “cuidado” do Pai com seu povo, o profeta não esconde a decepção de Deus com esse mesmo povo, do qual esperava gratidão e temor: “Você não me invocava, Jacó; você se cansou de mim, Israel…” – Is 43,22. Esse sentimento de tristeza, no entanto, não é o bastante para fazer Deus desistir de seu amor paternal:
Assim diz Javé, que o fez (…) não tenha medo, meu servo Jacó, meu escolhido, vou derramar meu espírito sobre os seus descendentes… Is 44,3.
Deus é assim mesmo! Nunca desiste de nos amar. Nós, muitas vezes, recusamos esse amor. Mas, quando nos voltamos para ele tudo muda. Na volta do filho pródigo o pai manda preparar-lhe uma festa! Prepara, carinhosamente, nosso retorno ao seu convívio e aguarda-nos pacientemente. Quando tomamos a decisão de voltar para Ele tudo muda. As flores brotam no deserto e ele nos espera de braços abertos!