Peço a morte!

Ô meu Deus, como farei para gravar hoje? Do meu lado alguém cantando a música da Anitta e repetindo, mil vezes, o mesmo refrão; um cachorro que se põe a latir assim que começo a falar; o calor que me faz suar em bicas... Desisto! O cantor chega a me irritar tanto pela música quanto pela sua qualidade vocal. Qualquer dia vou publicar um “making of” dos meus vídeos e você saberá do que eu morri.  

Outros dias, um cara ligou uma britadeira na hora da minha gravação. Assim que a britadeira parou, o outro disparou uma makita. Aquilo foi uma verdadeira orquestra durante toda a manhã. Como se não bastasse, na hora de minha concentração, passou na rua, um caminhão vendendo abacaxis “fresquinhos,” de Marataízes... Eu mereço! Foi muita sorte num dia só! Durante três dias tentei concorrer, em vão, com uma máquina que asfaltava minha rua. Ela fazia tremer o prédio! Se você me ver tremendo, no vídeo, não é maleita não. É a máquina de asfaltar. 

 Mas, você não tem um estúdio adequado, o leitor poderia me perguntar. A resposta é não! Um dia terei. Assim que vender uma boiada em Mato Grosso... 

A vida não é simples para ninguém. Com dificuldades aprendi a assoviar e chupar cana ao mesmo tempo. E olha que ainda sou usuário de dentadura! Às vezes, minha cabeça dá um nó. Já troquei Zeus por Xangô e Lakshmi por Afrodite, Anitta e Luan de Santana. É isso mesmo? Afinal de contas, estou sempre bem amparado e cercado de musas, deuses, heróis e de músicas, mais ou menos, boas. Os bandidos vêm de graça. E olha que nem falei das contas para pagar! Preciso vender a boiada rápido, antes que toda ela vire churrasco, no Pantanal. 

 Aprendi com meus pais a ter "jogo de cintura". Eles tiveram nove filhos, meia dúzia de cachorros e milhares de contas para pagar. Em compensação meu pai tinha uma buzina para chamar os cachorros. Aquilo era luxo. Quase uma ostentação! Hoje só me falta a buzina! 

 Você que assiste aos nossos vídeos procure ser compreensivo. Existem muitas forças negativas em torno de nós. Mas, estão todas amarradas, em nome de Jesus! Eu só não consegui abafar o som de uma “britadeira” ou algo parecido, que alguém usa para tirar pneus ou disparar contra um exército inimigo. Confesso que já cheguei a deitar no chão para não ser atingido por um projétil. 

 Ao ver a situação de algumas mães, na verdade, eu me sinto um privilegiado. Conheço uma, que cuida dos netos, faz biscoitos para vender, lava, passa e ainda aguenta a “manguaça” do marido que chega em casa tarde, e ainda “cisma,” de tocar sanfona. Ela já dança o dia todo e tem que aguentar aquele estrupício durante a noite. Qualquer dia ela vai rasgar, com os dentes, o fole daquela sanfona velha! Por isso, agradeço a Deus pela britadeira, pelo cantor do lado e pelo cachorro que me atazana nas horas de gravações. Até já decorei alguns versinhos da Anitta. E viva a vida! Agora vou parar o texto para comer uma rodela do abacaxi “fresquinho” de Marataízes. Tá com inveja não?

 

Imagem de Jeser Andrade Arango por Pixabay