Ophtalmodoulia

 

O titulo desse artigo, que soa como palavrão, na verdade, fala apenas, de nossa dependência do olhar, ou aprovação, do outro sobre aquilo que fazemos ou deixamos de fazer. Ophthalmós = olho, oftalmologia. Doulos = Servo, escravo...  Até aí tudo bem. Afinal, somos humanos e carregamos muitos abismos dentro de nós. Temos medos, inseguranças, incertezas e muitas outras realidades desafiadoras às nossas limitações e,  às vezes, precisamos de aprovação social pelo nosso comportamento.  O problema é quando a pessoa só faz algo ou deixa de fazê-lo por causa desse olhar, de tal maneira que, se alguém estiver filmando você age de um jeito se ninguém estiver filmando age bem diferente.

Lembro-me, de quando professor, estando em sala de aula, acontecia um pique de energia e, escuro, havia uma gritaria danada. Às vezes, pedia aos alunos para repetirem os mesmos gritos na presença da luz. Mas, todos ficavam em silêncio. Enquanto protegidos pela invisibilidade faziam coisas que não tinham coragem de fazer à luz do dia. Agir debaixo dos panos não é sinal de maturidade. O mesmo poderia dizer com relação à ophtlmodoulia. Agir só para ser visto como se fosse escravo do olhar do outro também não me parece sinal de maturidade.

Esse comportamento individual também ocorre nas organizações. Uma das empresas mais poluentes pode construir ou reformar um jardim para vender uma imagem positiva de compromisso com o meio ambiente, o meio ambiente que ela ajuda a destruir. Passar uma imagem daquilo que não se é, é uma atitude, no mínimo hipócrita. Lembremos que “hipócrita” era o nome de uma máscara que os atores gregos usavam sobre o rosto para caracterizarem seus personagens. O ator poderia, com esse recurso, ter duas caras ou mais. O hipócrita tem duas caras. “Por fora bela viola, por dentro pão bolorento”. A hipocrisia foi uma das coisas que Jesus mais condenou no seu tempo. Ao grupo dos fariseus foi destinada a maioria dessas críticas. Certa vez, ele disse: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa de vosso pai que está nos céus” Mt 6, 1.

Para Jesus o olhar mais importante é sempre o olhar de Deus. Desse olhar ninguém se esconde. Quanto ao olhar dos homens, isso não é tão importante, até porque o mundo está muito preso às aparências. Já dizia o Pequeno Príncipe: O essencial é invisível aos olhos... Hoje em dia, no entanto, principalmente, nas redes sociais não é isso que se vê. Cada um vende a melhor imagem de si mesmo. No “Facebook” e no “Insta”, ninguém tem problema. Todo mundo está feliz e sorridente. São verdadeiras Alices no país das maravilhas. Nesse universo todo mundo é bem sucedido, se dá bem no amor e tem sucesso na vida. Nunca vi tanta mentira, gente! Quando é que nos livraremos dessa escravidão dos olhos, dessa “ “Ophtalmodoulia”? Talvez, fosse melhor se ficássemos apenas com o “Doulos” e menos com o  “Ophthalmós”, afinal, viemos ao  mundo para servir e não apenas para sermos vistos e admirados. Oxalá possamos buscar mais o olhar amoroso de Deus e menos os “big brothers” dessa  vida...

Imagem destaque: Imagem de DesignDraw DesignDrawArtes por Pixabay