Caminhos de Santidade

E quase impossível conhecer alguns santos sem se encantar com eles. Os caminhos da santidade são diversos e não existe um modelo únic...



E quase impossível conhecer alguns santos sem se encantar com eles. Os caminhos da santidade são diversos e não existe um modelo único a ser percorrido. Alguns santos, mesmo vivendo em tempos e mundos diferentes, trilharam caminhos parecidos, pois, nortearam suas vidas pelo amor. Nesse ponto foram todos iguais.

Os “doutores da Igreja” se destacaram pelo profundo conhecimento teológico ou mesmo das sagradas escrituras. Outros santos se destacaram no trabalho missionário ou na caridade com os mais pobres. Nesse último quesito podemos colocar São Vicente de Paulo, Santa Dulce, Tereza de Calcutá e muitos outros...

Tereza de Calcutá, Vicente de Paulo e Frederico Ozanam, além de verem Jesus nos pobres, foram também grandes organizadores do trabalho assistencial. Nem sei como conseguiram fazer tanto, em ambientes tão hostis à fé cristã. Apesar, de viverem em tempos diferentes, tiveram a mesma garra para defender os menos favorecidos. São Vicente de Paulo organizou “asilos”, construiu cadeia para dar dignidade aos presos, seminários para formação do clero e “creches”... O mesmo fez Tereza de Calcutá vivendo numa cultura oriental, totalmente, diferente da nossa, em pouco tempo conseguiu organizar uma obra com 600 casas em 122 países e um verdadeiro “exército” de 4 mil freiras e monges para assistência aos mais desvalidos. Frederico Ozanam criou, inspirado no exemplo de São Vicente de Paulo, uma verdadeira “Rede de Caridade”, que perdura até hoje, são as conferências vicentinas. Inclusive, em nossa região, elas fazem um grande bem aos pobres.

Sobre Tereza de Calcutá algo me chama a atenção. Ela viveu “uma mística entre o Oriente e o Ocidente” (1). As duas culturas são totalmente diferentes. Mas, Madre Tereza soube incorporar sua fé de tal maneira que a vivia de forma não dual, ou seja, não via Deus separado daqueles que lhe pediam ajuda. Em seus pronunciamentos recorria sempre à passagem bíblica de São Mateus: ...Eu estava com fome e me destes de comer; estava com sede e me destes de beber; eu era forasteiro, e me recebestes em casa (...) todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequeninos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes! (Mt 25, 35-40). Ela não via a presença de Deus no pobre. Via neles o próprio Deus que lhe dizia: Tenho Sede!  Esse foi um segundo chamado dentro de um primeiro, pois quando fez opção radical pela pobreza em 1946, durante uma viagem de trem, já era religiosa.  Em um de seus comentários afirmava:

Não desperdicem suas energias em coisas inúteis. Olhem e vejam. Olhem e vejam o seu irmão, a sua irmã, e não somente na casa de vocês. Olhem e vejam, onde houver pessoas famintas que tem olhos fixos em vocês, onde houver sem tetos que têm olhos fixos em vocês. Não virem as costas aos pobres, pois os pobres são Cristo (2).

Para Santa Tereza de Calcutá o divino não é algo que se coloca como “outro” em relação a nós, como um ser inatingível e radicalmente distante do mundo, mas está aqui em nossos irmãos, sobretudo, nos que mais sofrem. Esse estar presente de Cristo não é algo metafórico, mas literal. Isso combina com uma das principais filosofias indianas, a Advaita Vedanta. De acordo com essa “filosofia” há uma profunda unidade entre a alma individual (Atman) e o Absoluto imaterial e informe - Nirguna Brahman (3).   O ensinamento principal de Tereza nega qualquer dualismo. Um de seus colaboradores explica melhor essa postura:

Não existem dois mundos, o físico e o espiritual, mas um só: O Reino de Deus está na terra como está nos céus. Muitos de nós rezamos “Pai nosso, que estais no céu”, pensando que Deus esteja lá em cima, e isso cria um desdobramento entre os mundos. Muitas pessoas, no Ocidente, gostam de manter bem cômoda e oportunamente separados a matéria e o espírito. Toda a verdade é uma, toda a realidade é una (4).

Tereza de Calcutá levava a fé nas mãos, ou seja, traduzia em obras o que professava. Diante dela, o pobre era o próprio Cristo. Sua mística era alimentada no contato com os mais sofridos e abandonados.  A santidade para ela não era a glorificação de si mesma, mas  permissão para que Deus pudesse viver em sua própria vida. Algo que parece ter acontecido também com São Paulo quando disse: Já não sou eu mais quem vive. É Cristo que vive em mim – Gl 2, 20.

Olhando para a vida desses grandes santos podemos refletir sobre as nossas vidas. Será que nossa fé se transforma em obras ou permanece apenas como um pacote de verdades herdadas pela tradição? Até que ponto conseguimos ver o próximo como Cristo?

Que Deus nos ilumine. O mundo ainda precisa de santos e cada um de nós pode ser um pouquinho mais santo...


1-      GERMANI, Glória. Tereza de Calcutá: Uma mística entre o Oriente e o Ocidente: Seu pensamento sobre a Índia e Gandhi. SP. Paulinas, 2009.
2-      ----------- idem. Apud. Regola, p. 131.
3-      RUPPENTHAL, Neto, Willibaldo. Hinduísmo: Conceitos, tradições e práticas. Curitiba – InterSaberes, 2020.
4-      --------ibiden. Germani Glória. Testemunho do Padre Bert White. In: Vardey, Madre Tereza, um cammino semplice, cit., p. 26.


Imagem de Mihir Upadhyay por Pixabay 

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