Héracles e seus doze trabalhos

  Sobre Héracles, ou Hércules, já escrevemos outro texto dando uma visão geral sobre ele. Agora vamos restringir o assunto e entrar diretame...

 


Sobre Héracles, ou Hércules, já escrevemos outro texto dando uma visão geral sobre ele. Agora vamos restringir o assunto e entrar diretamente em seus doze trabalhos.

Porque um herói, como Héracles,  tido como modelo de honradez, teve que servir, por doze anos, ao seu primo Aristeu, um rei medíocre e ciumento? O mito de Héracles apresenta vários argumentos para explicar a situação. Fiquemos com a “sentença” dada pelo oráculo de Délfos. Ele deveria servir ao seu primo, em reparação pela morte, ainda que involuntária aplicada aos próprios filhos. Sendo que, por trás de toda essa narrativa, estava Hera, uma deusa ciumenta, que procurava vingar no herói, filho ilegítimo de Zeus, o seu marido traidor. Lembrando que, na mitologia o homem às vezes não passa de um simples brinquedo nas mãos das divindades.

Os primeiros seis trabalhos designados a Héracles, por Aristeu tiveram o Peloponeso como palco; os outros seis tiveram como palco o resto do mundo ou até mesmo a mansão dos mortos. Para realizar esses trabalhos Héracles contou com suas armas: Uma clava de madeira feita de uma oliveira selvagem, uma espada ganhada de Hermes, arco e flechas recebidas de Apolo, uma couraça dourada, presente de Hefesto, cavalos doados, por Posseidon, e uma túnica, doada por Atena. Como se pode ver, o herói estava bem munido!

Primeira tarefa: Caça ao Leão de Némea.

O Leão de Némea, era um monstro, irmão da Esfinge, criado por Hera. Ele habitava uma caverna com dupla entrada e devorava tudo o que visse pela frente, homens e rebanhos. Em vão, Héracles disparou sua flecha contra ele. Depois de muita luta, conseguiu fechar uma das entradas da caverna e pulando sobre ele asfixiou-o, com as próprias mãos. Após matá-lo, usou sua pele como vestes. Com as próprias garras do monstro cortou-lhe a pele e fez dela uma capa para si. Quanto ao leão, dizem que Zeus o incluiu entre as constelações para que esse feito de Héracles fosse, para sempre, lembrado. O leão é sempre um símbolo de força e poder. Mas, quando essas qualidades não são dirigidas pela razão elas acabam sendo destrutivas e assustadoras. Talvez, isso possa explicar todas as tiranias da história.

Segunda tarefa: Caça à Hidra de Lerna

A Hidra de Lerna era uma grande serpente com várias cabeças. Bastava o seu hálito pestilento para matar qualquer um, que dela se aproximasse. Novas cabeças cresceriam no lugar onde uma de suas cabeças fosse cortada. Para matá-la, Héracles usou flechas inflamadas. Assim, os cortes seriam, imediatamente, cauterizados evitando o surgimento de novas cabeças. Os comentaristas desse mito dizem que a hidra de cabeças nascentes, é na realidade, o pântano de Lerna secado por Héracles. As cabeças são as nascentes que conseguiam sempre irromper... Héracles não apenas mata esse monstro, mas tira proveito do seu sangue envenenado para preparar suas flechas.

Terceira tarefa: Caça ao Javali de Erimanto

O terceiro trabalho ordenado por Euristeu foi trazer vivo um enorme javali que vivia no cimo do Erimanto. Com seus gritos, Héracles tirou o animal de seu esconderijo e o cansou bastante lutando com ele em meio à neve que cobria a região. Após cansar o animal colocou-o sobre os ombros e o conduziu à Micenas. Euristeu ficou com tanto medo, ao ver aquilo que se escondeu dentro de uma ânfora. Héracles não mata o javali, mas domina-o. Para isso teve que subir à montanha, ou seja, passar por uma evolução. Uma vez domesticado o Javali não oferecia mais nenhum risco à população.

Quarta tarefa: Caça à corça de Cerineia

A corça de Cerineia era um animal gigantesco, que tinha os pés de bronze e devastava as lavouras dos camponeses. Essa corça era do tamanho de um touro e pertencia à deusa Ártemis. Em respeito à deusa, Héracles apenas imobilizou o animal após um ano de tentativas para prendê-la.  Depois de longo tempo,  conseguiu ferir a corça, mas não a matou. Levou-a, ao templo para que fosse curada. Com ela não usou a força bruta, mas sua sensibilidade e intuição. O herói está sempre em busca de uma evolução de si mesmo...

Quinta tarefa: caçar os pássaros do Lago Estínfalo

Os pássaros que viviam numa mata fechada, próxima ao Lago Estínfalo, haviam se transformado numa verdadeira praga. Elas habitavam o pântano, um lugar de podridão. Por serem muitas e se esconderam na mata, ninguém conseguia destruí-las. Euristeu não perdeu tempo. Ele gostava de encarregar o herói daquilo que ele mesmo não conseguia realizar. Por isso, encarregou-o de eliminar tais pássaros. Para realizar essa caçada Héracles recorreu às castanholas de bronze fabricadas por Hefesto. O barulho desse instrumento assustou os pássaros. Eles foram todos abatidos quando tentavam fugir do pântano. As plumas dessas aves de rapina eram como de aço. Na hora do aperto eles as lançavam sobre os caçadores e os matavam.  As castanholas nos remetem à ideia da música e mais uma vez de sensibilidade. Nem tudo conseguimos dominar pela força, mas pela sensibilidade e inteligência. Após a morte das aves pestilentas o sol voltou a brilhar naquele pântano...

Sexta tarefa: As cavalariças do rei Augias

Augias era um rei da Élide, no Peloponeso. Era filho do deus Hélio (sol) e tinha, sob os seus cuidados um inumero rebanho do pai. Apesar de ser filho do sol seu curral não era limpo havia trinta anos!  Limpá-lo, parecia, uma tarefa impossível. O estrume acumulava-se no curral e  faltava adubo nas plantações. Por isso, as lavouras acabavam morrendo. Euristeu que pretendia humilhar o herói impôs a ele a tarefa de lavar os estábulos da cavalaria em apenas um dia. Héracles conseguiu essa façanha desviando o curso das águas de dois rios (Alfeu e Peneu) que lavaram, rapidamente, o local.  Às águas em movimento limparam toda a impureza do local. Às vezes é preciso sair da zona de conforto para modificar as coisas para melhor...

Sétima tarefa: O touro de Creta

O touro de Creta era um animal lendário surgido do mar quando o rei Minos prometeu sacrificar a Posídon tudo o que saísse do mar naquele dia. Mas, ao ver a beleza do animal, Minos fez uma troca e sacrificou à divindade outro animal bem inferior. Irado Posídon transformou o touro num animal extremamente perigoso que soltava fogo pelas ventas. Herácles dominou esse touro e atravessou o mar em seu lombo quando deixou a Ilha de Creta em direção à Grécia. Após entregar o touro a Euristeu ele acabou soltando o animal novamente.

Oitava tarefa: As éguas de Diomedes

Diomedes era rei da Trácia. Suas éguas se alimentavam de carne humana. Elas eram treinadas para guerra e devoravam todos os estrangeiros. Mas, com o tempo a coisa saiu de controle e até o próprio Diomédes passou a correr riscos. Héracles foi sozinho em busca desses animais ferozes e após matar quatro delas, ofereceu suas carnes para o rei Diomedes. Após essa façanha do herói os demais animais se transformaram em verdadeiros cordeirinhos... As éguas devoravam os estrangeiros porque não conseguiam conviver com as novidades. Cronos, também tinha o hábito de devorar os próprios filhos. Temiam que eles fossem uma ameaça para ele.

Nona tarefa: O cinto da Rainha Hipólita

A nona tarefa atribuída a Héracles foi buscar o cinto da Rainha Hipólita no reino das Amazonas para a filha de Euristeu. Esse citurão foi um presente de Ares, o deus da guerra. As amazonas costumavam matar todos os homens que apareciam em suas terras. Esse país ficava muito longe. Mas, Héracles navegou até lá e conquistou o coração da rainha. Mas, Hera fez acontecer uma guerra entre os seguidores de Héracles e as Amazonas. No meio da briga, Héracles acabou matando, Hipólita, sem querer. O seu cinto, no entanto, foi levado ao rei Euristeu para cumprir a promessa feita. Uma intriga prevaleceu sobre a verdade. A intriga causada por Hera, que não suportava nenhuma concorrente, gerou um caos. A deusa aproveitou-se da força do herói para tirar do seu caminho mais uma possível concorrente.

Décima tarefa: Os bois de Gérion

A décima tarefa de Héracles foi buscar os bois de Gérion para Euristeu. Gérion possuía enormes rebanhos de bois, todos vermelhos, à guarda do seu pastor Eurítion, na Ilha de Eritéia. Eurítion era ajudado por um cão de três cabeças ( Ortro). Essa ilha ficava no extremo ocidente e para chegar até lá Héracles devia atravessar o oceano. Para fazer isso ele pediu a “taça do sol”, uma espécie de barca, emprestada. Nessa taça o sol atravessava o oceano ao final do dia para surgir no nascente em cada dia. Após chegar ao destino, Héracles teve que se envolver em muitas brigas para conseguir os bois. Assim que venceu os adversários, embarcou os bois, outra vez, na taça do sol em direção à Grécia. Assim realizou mais esse trabalho.

Décima primeira tarefa: Buscar vivo, o cão Cérbero

Cérbero era um cão de três cabeças que vigiava, constantemente, a morada dos mortos. Héracles só conseguiu realizar essa tarefa com a ajuda de Hermes e Atena. Antes dessa viagem ele teve que ser iniciado nos mistérios de Eleusis. Esses mistérios ensinavam os mortais os meios de chegar ao outro mundo com segurança após a morte. Instruído pelos deuses e pela vida Héracles agora pode conhecer os dois mundos: o mundo dos vivos e dos mortos!

Quando os habitantes do Hades viram Héracles chegar, fugiram todos com muito medo. Só permaneceram no local  Medusa e o Herói Meleagro. Héracles puxou a espada contra Medusa e só depois verificou que se tratava apenas de uma sombra. Ao saber a história de Meleagro Héracles chegou às lágrimas. Soube que ele deixara viva, apenas uma irmã chamada Dejanira. Héracles prometeu-lhe, que se casaria com ela, assim que saísse da mansão dos mortos.

Héracles obteve a permissão de Hades para levar Cérbero, consigo desde que não usasse nenhuma de suas armas contra ele. Depois de lutar contra Cérbero, Héracles o dominou e o conduziu até o palácio de Euristeu. Ao ver aquele animal monstruoso, Euristeu, como sempre se escondeu dentro de sua ânfora. Sem saber o que fazer com o animal, Héracles o devolveu à mansão dos mortos.

Décima segunda tarefa: As maçãs de ouro das Hespérides

Quando Hera e Zeus se casaram a deusa Geia (Terra) ofereceu-lhes umas maçãs de ouro. Hera plantou os frutos em seu jardim nas proximidades do Monte Atlas. Para vigiar as plantas Hera encarregou um dragão imortal de cem cabeças. Além dele, as três ninfas da tarde, Hespérides,  também faziam a guarda do jardim. Pois bem. Eram esses frutos de ouro que Héracles devia levar a Euristeu. Na tentativa de cumprir essa tarefa o herói virou o mundo! No caminho libertou Prometeu de seu castigo que em recompensa revelou-lhe um segredo: Somente Atlas, o gigante, poderia colher esses frutos. De posse dessa informação ele procurou Atlas e ofereceu-se para aliviá-lo, carregando o mundo para ele. Em troca, Atlas deveria trazer-lhe as maçãs de ouro. Quando tudo parecia fluir bem e Atlas retornou com os frutos, algo deu errado. O próprio Atlas disse que levaria os frutos para Euristeu. Héracles fingiu concordar. Apenas pediu-lhe que segurasse o mundo um pouquinho enquanto ele colocava um saco sobre os ombros. Sem desconfiar de nada Atlas segurou o mundo. Nesse momento Héracles fugiu com as maçãs. Héracles sentiu o peso do mundo, ainda que por alguns instantes!

Após todo aquele esforço, Euristeu disse não precisar mais dos frutos. Era puro capricho! Héracles, então, entregou os frutos à Atena para que ela devolvesse os mesmos às Hespérides.

A morte de Héracles

Após superar os entraves e vencer todos os desafios Héracles agora estava pronto para o reino dos imortais. Percorreu o céu e a terra. E enquanto realizava os trabalhos buscava conhecer a si próprio. Procurou deixar crescer a divindade que estava dentro de si, sem negar sua humanidade. Após vencer os doze trabalhos, casou-se, com a Ninfa Djanira, conforme prometeu a Meleagro, seu irmão, com quem havia se encontrado no reino dos mortos. Paradoxalmente, esse casamento foi o início do seu fim. Certo dia, quando o casal passeava pelos campos Djanira viu o Centauro Nesso e se apaixonou por ele. De súbito, ela foi apanhada pelo centauro e ambos fugiram galopando. Héracles, enfurecido disparou sobre ele uma chuva de flechas envenenadas com o sangue da Hidra. Antes de morrer o centauro aconselhou Djanira a tirar de seu corpo a túnica envenenada e, na ocasião oportuna, oferecê-la, a Héracles. O tempo passou e Héracles arranjou novas amantes. Isso fez aumentar os ciúmes de Djanira. Certo dia ela enviou-lhe a túnica envenenada de presente. Sem saber de nada Héracles vestiu-a para oferecer um sacrifício a Zeus. O veneno logo fez efeito. A túnica colou em seu corpo e ninguém conseguia tirá-la. Ao saber do acontecido Djanira tirou a própria vida. Enlouquecido de dor Héracles se jogou sobre um monte de lenhas, no Monte Eta e pediu ao seu discípulo, Filoctetes que ateasse fogo na lenha. Mas antes de morrer confiou o seu filho à sua concubina. Assim que o herói deitou-se sobre a pira incandescente, ouviu-se um grande trovão. Uma nuvem desceu do céu e o corpo de Héracles foi arrebatado por Zeus, o seu pai.

Assim terminou a saga de um dos maiores heróis da Grécia. Zeus não permitiu que seu filho descesse à mansão dos mortos. Elevou-o ao céu e o tornou imortal ao lado dos deuses.

 

Obs: Esse texto foi baseado nas seguintes obras:

BRANDÃO, Junito. Dicionário Mítico-Etimológico da Mitologia Grega. Vol I e II. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.

GRIMAL, Pierre. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. 4ª edição, RJ: Bertrand Brasil, 2000.

Imagem de FelixMittermeier por Pixabay 

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  1. Muito rico de informações! Parabéns Padre Gabriel, estamos aprendendo muito com esse precioso trabalho!

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  2. ..."Apenas pediu-lhe que segurasse o mundo um pouquinho enquanto ele colocava um saco sobre os ombros. Sem desconfiar de nada Atlas segurou o mundo."..

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